São Paulo, domingo, 05 de dezembro de 2010

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Aumento da renda impulsiona mais o consumo que a poupança

Estudo mostra que volume de empréstimo para classe C cresceu bem mais que investimento pessoal

Devido ao histórico de renda e inflação, taxa de poupança no Brasil é uma das mais baixas entre países emergentes

MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

Nilceia Dias,31, até tem uma conta poupança, mas não junta nada. Em compensação, tem casa própria, moto nova na garagem, laptop e vai viajar de avião pela primeira vez em janeiro, para passar férias na Bahia.
Tudo comprado com o que ganha como diarista e fotógrafa -entre R$ 600 e R$ 3.000 por mês. "Melhorou muito nos últimos anos", diz.
Desde que deixou de trabalhar como empregada doméstica, em março, ela passou a contribuir para o INSS como autônoma, mas faz três meses que está atrasada.
"Vou regularizar quando acabar de pagar as prestações da moto", contou.
Assim como no caso de Nilceia, para a maioria da classe C o aumento da renda significou muito mais consumo do que poupança.
Levantamento feito pelo BB (Banco do Brasil) mostra que o volume de empréstimos concedido aos correntistas de classe C, com renda entre R$ 1.115 e R$ 4.807, cresceu 350% entre 2005 e 2010.
Já o volume médio de investimento do grupo aumentou apenas 27% no período.
Segundo o diretor de varejo do BB, Janio Carlos Macedo, o Crédito Direto ao Consumidor é a linha mais comum entre a classe C. É a modalidade que financia carros, móveis e eletrodomésticos.
"Hoje a propensão desse público é consumir mais. Sobra pouco para poupar", diz.

INFLAÇÃO
A opinião é a mesma do sócio da consultoria de varejo GS&MD - Gouvêa de Souza, Luiz Goes. Ele diz que o brasileiro não tem cultura de poupança devido ao histórico de renda baixa e inflação alta.
"Durante anos, o brasileiro não chegava ao fim do mês com dinheiro. Agora, que tem renda e credito, está gastando, devido às necessidades reprimidas de consumo."
Uma pesquisa feita em agosto pela consultoria com 8.500 internautas em 17 países ilustra a baixa propensão do brasileiro para poupar.
O entrevistado deveria dar uma nota de 1 a 10 para seu hábito de poupança ao responder à pergunta: "Você economiza o máximo que pode pensando no futuro?".
A média do Brasil ficou em 6,4, abaixo do resultado geral dos entrevistados (6,7) e dos outros países da América Latina -Chile (7,1), Argentina (7,5) e México (6,7).
Devido ao atual processo de envelhecimento, a população brasileira deveria ter uma taxa de poupança maior, afirma o economista da FGV Samuel Pessoa.
Mas as famílias economizavam apenas 7,6% da sua renda bruta em 2006, dado mais recente do IBGE.
O percentual é bem menor do que o de outros países de mesmo perfil demográfico (na China e na Índia, a taxa supera 30%) e inferior até mesmo à média da União Europeia (11% em 2006), onde jovens já são minoria.
"Na velhice, o rendimento diminui e gastos com saúde aumentam. Os jovens precisam economizar para esse momento", explica.
Por insistência da mãe, o ator e dublador Felipe Grinnan fez um plano de previdência privada há um ano. Mas investe apenas R$ 200, menos de 4% da sua renda média mensal de R$ 6.000.
Na prática, ele não consegue economizar e está sempre devendo no cheque especial e no cartão. O dinheiro vai principalmente para viagens e a coleção de DVDs.
"Quando estou devendo muito, trabalho mais, até em feriado, fim de semana. Mesmo assim nunca pago a fatura inteira do cartão. Não consigo cortar gastos", contou.
A taxa de poupança do Brasil, que indica a quantidade de recursos disponíveis para financiar os investimentos do país, está hoje em 18%, uma das mais baixas entre países emergentes.
Quem mais contribui para o resultado é o governo, cuja poupança é negativa.


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