São Paulo, domingo, 05 de dezembro de 2010 |
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ANÁLISE Envelhecimento prejudica a formação de poupança MARCELO ABI-RAMIA CAETANO ESPECIAL PARA A FOLHA O Brasil passa por acelerado processo de envelhecimento populacional. De acordo com o IBGE, atualmente 7% da população tem 65 anos ou mais. Esse número deve mais que triplicar nas próximas quatro décadas, chegando a 23% em 2050. O ritmo é muito rápido quando comparado a outras experiências históricas. Países europeus levaram um número de anos substancialmente superior para o percentual de idosos avançar. Há duas razões para o envelhecimento. Primeiramente, as mulheres têm cada vez menos filhos. A taxa de fecundidade brasileira já caiu para cerca de 1,9 filho. Nesse valor, a longo prazo, a tendência é que a população diminua de tamanho. Para manter a população estável seria necessário taxa de 2,1 filhos: 2 para repor os pais e 0,1 para compensar os efeitos da mortalidade infantil. Em segundo lugar, as pessoas vivem cada vez mais. O envelhecimento é reflexo de fatores positivos. Uso consciente de métodos contraceptivos e inserção feminina no mercado do trabalho reduziram a fecundidade. Avanços da medicina e da saúde pública diminuíram a mortalidade. As consequências desse processo vão além de questões meramente demográficas. Influenciam a formação de poupança e, portanto, as fontes de financiamento para compra de máquinas e equipamentos capazes de sustentar o crescimento e a geração de renda e emprego. A relação entre envelhecimento e poupança se dá por duas vias: privada e pública. Em relação ao setor privado, o comportamento esperado é que as pessoas poupem enquanto jovens e durante a 3ª idade usufruam do patrimônio acumulado previamente. Esse fator é particularmente grave pelo fato de sermos um país de baixa taxa de poupança quando comparada internacionalmente. Pesquisas recentes apontam o Brasil, junto com a Turquia, como o de menor taxa de poupança entre os países emergentes. Culturalmente poupamos pouco e a evolução demográfica tende a reforçar esse comportamento. A segunda via é o setor público. População mais velha elevará gastos com previdência e saúde, gerando pressão nos gastos públicos e debilitando a capacidade do governo de formar poupança. É essencial a antecipação a esses eventos mediante políticas capazes de estimular a poupança das famílias e ajustar as contas públicas para que o Brasil possa sustentar sua trajetória de crescimento no longo prazo. MARCELO ABI-RAMIA CAETANO é economista do IPEA Texto Anterior: Aumento da renda impulsiona mais o consumo que a poupança Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: Um ministério para chamar de seu Índice | Comunicar Erros |
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