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ANÁLISE
Estatal deverá enfrentar série de riscos pela frente
ADRIANA HERNANDEZ PEREZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Motivado pelas descobertas de recursos petrolíferos
na camada pré-sal da bacia
de Santos e Campos, o governo federal submeteu em
agosto de 2009 ao Congresso
brasileiro um conjunto de
propostas de leis que alteram
significativamente o modelo
para a área do pré-sal e aquelas que venham a ser consideradas estratégicas.
Dentre as mudanças, inclui-se a atribuição de uma
reserva de mercado à Petrobras nessas áreas, que se daria de duas formas: cessão
onerosa de 5 bilhões de barris
na área do pré-sal e reserva
de ao menos 30% de participação em todos os blocos
que venham a ser licitados
nessas áreas, nos quais ela
seria a operadora única das
atividades de exploração e
produção (E&P).
Há ainda a alteração das
regras de transferência de recursos da produção petrolífera das empresas para o Estado brasileiro -com a introdução do contrato de partilha- e a criação da uma estatal com poderes sobre as decisões operacionais do consórcio.
Essa proposta, motivada
pela percepção do governo
de que o risco geológico caiu,
se dá num cenário internacional adverso, dado que o
risco percebido das atividades econômicas em geral, e
em particular para a indústria de petróleo com o grande
acidente ambiental da British Petroleum no golfo do
México, está sendo reestimado para cima.
Logo, se o risco geológico caiu, o mesmo não ocorre
com os riscos comercial e ambiental da atividade.
Ademais temos o aumento
do risco político, com a Petrobras sofrendo com a queda
do valor de mercado de suas
ações, reflexo do atraso e da
pouca clareza na discussão
de aspectos do novo modelo,
como o processo de cessão
onerosa.
Não é possível saber como
esses riscos combinados afetarão os ganhos da Petrobras, que, mesmo sendo a
empresa de referência internacional em águas profundas, vislumbra desafios importantes do ponto de vista
tecnológico e de atendimento crescente de demandas sociais, estas derivadas do aumento do controle do governo sobre suas atividades.
A reserva de mercado no
pré-sal é certamente um
grande bônus à empresa,
mas, dentre outros fatores, a
geração de lucros dependerá
intimamente das regras de
transferência que serão estabelecidas na minuta do contrato de partilha de produção
e no nível de intervenção estatal nas operações.
ADRIANA HERNANDEZ PEREZ é doutora em
economia e coordenadora do Centro de
Economia e Petróleo - IBRE/FGV (Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação
Getulio Vargas).
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