São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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CRÍTICA ECONOMIA

Livro defende rigor científico em programas antipobreza

Comparar resultado obtido com o de um grupo de controle evita desperdícios

Mustafa Abdi - 28.jul.11/France Presse
Famintos esperam ração de comida na Somália, onde um terço da população passa fome

OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Mais do que Boas Intenções" argumenta que não basta o impulso altruísta para que ações destinadas a combater a pobreza deem resultado satisfatório -é preciso também ser eficiente.
Sem uma avaliação rigorosa dos programas sociais, afirmam Dean Karlan e Jacob Appel, é grande a probabilidade de desperdício de recursos doados pela sociedade.
Os autores escrevem com conhecimento de causa. Karlan, da Universidade Yale, é o fundador da IPA (Innovations for Poverty Action), organização focada em programas antipobreza. E Appel rodou continentes fazendo pesquisa nas comunidades mais carentes do mundo.
O livro defende que se avaliem programas sociais como se faz no meio científico, comparando o resultado no grupo beneficiado com o de um grupo de controle, aleatório. O método é conhecido pela sigla em inglês RCT (Randomized Control Trials).
A obra se debruça sobre programas voltados a populações miseráveis da África, mas várias das ideias analisadas, como o microcrédito, interessam ao Brasil.
Os autores mostram, com argumentação contraintuitiva, que mesmo iniciativas elogiadas, como microcrédito, nem sempre são positivas.
Uma operação desnecessária, mesmo com juro subsidiado, pode levar a endividamento, enquanto um crédito oportuno, mesmo com juro alto, pode dar bom resultado.
O Brasil, salvo por menção no prefácio à edição brasileira, não é citado. Nesse texto, os autores elogiam o Bolsa Família, enfatizando que nos quatro anos seguintes à sua criação, em 2003, a pobreza "caiu drasticamente", de 22% para 7% da população.
Mais útil para o leitor é comparar o Bolsa Família ao Progresa, programa mexicano existente desde 1997 (hoje, Oportunidades), que serviu de parâmetro para iniciativas em vários países.
Karlan e Appel contam que, na largada, o governo decidiu avaliar, com um RCT, o programa de transferência condicional, em que o recebimento de cheques é condicionado à frequência escolar.
Tal avaliação permitiu que o programa fosse copiado e adaptado com mais eficiência. Na Colômbia, por exemplo, foram feitos dois ajustes que melhoraram o resultado.
O primeiro foi a retenção de um terço do pagamento, liberado para a matrícula do ano seguinte. O segundo foi a concessão de um bônus para quem se formasse.
Aperfeiçoar uma boa ideia passa por observar a realidade local, afirmam os autores.
Sem descartar princípios da economia tradicional, eles se valem da economia comportamental e valorizam o particular -com a eficiência que cobram dos programas.

OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A Aventura do Dinheiro" (Publifolha).

MAIS DO QUE BOAS INTENÇÕES
Dean Karlan e Jacob Appel
EDITORA Campus/Elsevier
QUANTO R$ 69,90 (264 págs.)
AVALIAÇÃO Bom


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