São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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ANÁLISE

Imbróglio externo traz ameaça, não tragédia

Momento ruim da economia mundial pode refrear a demanda interna; cenário será mais difícil, mas sem colapso


IMAGINO PARA O BRASIL CRÉDITO MAIS ESCASSO, COMMODITIES MAIS BARATAS, REAL FORTE, INFLAÇÃO EM QUEDA E DEMANDA MENOS ROBUSTA

CELSO TOLEDO
ESPECIAL PARA A FOLHA

É hora de apostar em um cenário de colapso da economia mundial? Existe o risco. Mas essa não é a hipótese preponderante, por duas razões.
Primeiro, a frustração recente com o desempenho da economia norte-americana deve-se em parte ao otimismo excessivo do começo do ano, não indicando necessariamente recessão.
Segundo, por mais que os eventos recentes recomendem cautela com relação à capacidade de as lideranças encontrarem tempestivamente soluções eficazes para os problemas, acredito que o erro de permitir a quebra de um banco será evitado a todo custo. Esse seria o estopim de um colapso.
Alguns meses atrás, os analistas esperavam que a economia americana crescesse 3,5% ao ano no primeiro semestre. O resultado efetivo foi um quarto do previsto, envolvendo não apenas frustração com a atividade recente, mas revisões agressivas dos números passados.
Para complicar, a novela protagonizada no Congresso em torno do limite de endividamento do país terminou com um remendo distante da solução definitiva, gerando dúvidas sobre a segurança dos papéis do Tesouro dos Estados Unidos.
O dano causado à confiança de famílias e de empresas reduz a perspectiva de crescimento da economia americana. Apesar disso, as empresas lucram, têm caixa e o mercado de crédito não está parado. Quem estava muito otimista baixará a bola.
Mas ainda é bastante provável que os Estados Unidos continuem crescendo algo entre 2% e 2,5% e isso é suficiente para descaracterizar o caos deste lado do Atlântico.
Do outro lado, o problema é mais complexo. A solvência de países depende da confiança. Pagando juros de 4%, como nos últimos anos, a Itália é um país tão solvente quanto Japão ou Estados Unidos. Pagando juros de 6%, como recentemente, a conta não fecha. A mudança de percepção sobre o juro correto a ser cobrado não teve origem em algum indicador econômico ruim. De novo, a paralisia política foi a culpada.
O problema é que a mudança de percepção basta para tornar o país insolvente e, por extensão, alguns bancos.
Será que o diálogo difícil chegará ao ponto em que os governos deixarão uma instituição financeira quebrar?
Depois de todos os esforços -inclusive o de reconhecer a insolvência dos países problemáticos-, acho improvável que alguém banque a aposta. Façamos figa.
Se essas premissas forem verdadeiras, imagino para o Brasil um ambiente com volatilidades e caracterizado por crédito mais escasso, commodities mais baratas, real forte, inflação em queda e expansão menos robusta da demanda. Cenário mais difícil, mas não trágico.

CELSO TOLEDO é economista da LCA.


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