São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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Indústria prevê declínio apesar de pacote

Setores beneficiados pelo programa lançado por Dilma afirmam que desindustrialização não será interrompida

Fatia da indústria de transformação na economia do país caiu de 27,2% para 15,8% nos últimos 25 anos

AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

A nova política industrial do governo federal, apesar de elogiada, não será capaz de interromper a queda nas exportações e a perda de parte do mercado interno para os importados.
A avaliação partiu dos setores têxtil, calçadista e de software, três dos quatro atendidos pelo Plano Brasil Maior -a nova política industrial do governo petista. O setor moveleiro diz que medidas dão novo fôlego.
O governo zerou a contribuição previdenciária patronal, autorizou a restituição para as empresas de 3% da receita de exportação, além das medidas de defesa comercial. Questões como valorização do real e os juros ainda afetam a indústria.
Para o conjunto da indústria, excluído do primeiro lote de bondades, o risco de desindustrialização não cessa com o pacote. O peso da indústria no PIB deve continuar a cair. Em 2010, a indústria de transformação respondeu por 15,8% do PIB. Há 25 anos, a indústria respondia por 27,2% do PIB.
O governo disse que o pacote é "apenas o começo", mas a indústria tem pressa. A principal preocupação do setor industrial bate à porta.
O deficit comercial em produtos manufaturados deve bater US$ 100 bilhões, um recorde. Prova de que o crescimento da demanda está indo para as mãos do mercado internacional.
"[O pacote] foi o primeiro passo. Mas as medidas não são suficientes para evitar o processo de desindustrialização", disse Milton Cardoso, presidente da Abicalçados.
O setor calçadista, com 8.000 empresas e 360 mil trabalhadores, acumula nove meses consecutivos de queda da atividade industrial.
As exportações do setor caíram 12%, as importações subiram 50% e o saldo da balança caiu 26%. Tudo num semestre.
Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit, também elogiou as medidas, mas afirma que a "isonomia" competitiva ante os concorrentes externos passou longe.
"A indústria têxtil não quer proteção, quer igualdade de condições para competir. O Brasil tem um capital gigante: o mercado interno. Será ingenuidade entregá-lo às importações", disse Diniz.
Sem fôlego, o setor registrou em 2010 um deficit na balança comercial de US$ 3,5 bilhões, quase US$ 1,5 bilhão a mais do que em 2009. A oferta de emprego no setor começou a cair.
Gérson Schmitt, presidente da Abes (Associação Brasileira das Empresas de Software), disse que o pacote mira no rumo certo, mas está longe de inverter a perigosa dependência do Brasil.
O deficit em software e serviço é de US$ 2 bilhões, com um mercado de US$ 19 bilhões. Em menos de uma década, o mercado brasileiro será de US$ 60 bilhões. "Vamos crescer, mas, se não tomarmos cuidado, a dependência brasileira assumirá nível sem precedente", diz Schmitt.


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