São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2010

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Risco com câmbio já atinge mais ricos

Países como Japão e Suíça também agem para conter desvalorização; BCE reclama de lenta apreciação do yuan

Tema deve ser abordado em reunião do FMI nesta semana, mas chances de coordenação parecem improváveis

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

As ações recentes do Brasil para conter a alta do real vêm sendo apontadas no exterior como exemplo de uma crescente tendência intervencionista no câmbio por vários países, com destaque para Japão e Suíça.
O Japão interveio no yen em setembro pela primeira vez em seis anos, vendendo cerca de US$ 24 bilhões. Antes disso, nos últimos 15 meses até junho, a Suíça quadruplicou suas reservas, para US$ 219 bilhões, visando frear a subida do franco.
Vários outros emergentes enfrentam pressões similares com a queda do dólar. Mas o risco já chegou também nos ricos: autoridades europeias estão preocupadas com a alta do euro, que fragiliza a competitividade das exportações -umas das poucas fontes de avanço da região.
O presidente do BCE (banco central da zona do euro), Jean-Claude Trichet, que esteve reunido ontem com o líder chinês Wen Jiabao, criticou o ritmo lento da valorização da moeda do país asiático desde que deixou de estar atrelada ao dólar, em junho.
"Não é exatamente o que esperávamos", afirmou o dirigente. Para ele, uma apreciação mais forte do yuan contribuiria para o crescimento global "sustentável".
O economista Uri Dadush, ex-diretor de comércio internacional do Bird, afirma que as ações unilaterais não são inéditas -"a coordenação é que é a exceção"-, mas que dois fatores levam a situação atual a ser mais preocupante.
Uma é a crise da UE e a fragilidade do euro; a outra é que os EUA estão cada vez mais aflitos com a sua demanda. "Essas duas economias estão muito fracas. Devemos ter políticas monetárias mais frouxas e demanda baixa por muito tempo."
Os EUA também são acusados de manipulação da moeda. Ásia e até Brasil criticam a política de juros perto de zero, que tem efeitos no fluxo de moeda e no valor do câmbio em outros países.
"A situação [de eventual guerra cambial] vai depender da recuperação. Se houver outro mergulho recessivo, vai piorar", disse Dadush.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que vai pressionar por um novo sistema de coordenação de moedas internacionais.
O tema deve ser abordado nesta semana em reunião do FMI em Washington, mas as perspectivas de coordenação, parecem longínquas. "No máximo veremos promessas de políticas de estabilização de demandas domésticas", afirmou Dadush. "
O FMI alertou ontem, em relatório, para os riscos do aumento do fluxo de capital para as economias de diversas regiões, "especialmente na América Latina".
"Fortes fluxos de capital, principalmente quando liderados por espírito de manada, podem ter implicações negativas para a estabilidade caso sejam seguidos por reversões súbitas ou paradas."


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