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ANÁLISE
Câmbio em baixa é sintoma da embriaguez do pleno emprego
ROBSON GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA
O governo brasileiro finalmente adotou uma medida
clara no sentido de conter a
valorização cambial. Dobrou
a alíquota do IOF sobre os capitais de curto prazo que têm
ingressado no país para aplicação em renda fixa.
No entanto, a efetividade
desse tipo de medida para
conter a queda do dólar é
muito limitada no contexto
atual. Em todo o mundo, capitais de curto prazo movem-se devido às diferenças de taxas de juros.
E, hoje, o Brasil pratica taxas de dois dígitos em um
contexto de baixo risco-país.
Somem-se a isso as taxas
próximas de zero que vigoram nos principais mercados
internacionais e o ingresso
de capitais especulativos torna-se quase inevitável. Taxar
essas operações em 4% não é
uma medida capaz de reverter essa dinâmica.
Mas, a realidade é que o
câmbio é apenas a ponta do
iceberg. Os fundamentos da
economia estão desalinhados e esse desajuste tem sido
encoberto pela atual embriaguez do pleno emprego vivida no país, fenômeno raro
tanto em nossa própria história como no mundo hoje.
A única via segura para
evitar a valorização excessiva do real seria uma combinação de medidas que tornasse possível reduzir os
juros de forma sustentada,
sem comprometer o cumprimento das metas de inflação.
Vasculhando os manuais
de economia de todas as vertentes, encontra-se sempre a
mesma recomendação: a redução dos gastos públicos.
Na atualidade, o crescimento excessivo da demanda pressiona a alta de preços.
O BC, então, cumpre seu papel e eleva a Selic para encarecer o crédito e frear a inflação. O efeito colateral é a
atração de capitais especulativos e o tombo cambial.
Uma política fiscal mais
austera, sobretudo com cortes de custeio -não de investimentos-, contribuiria com
a contenção da demanda.
A baixa da inflação tornaria viáveis cortes consistentes de juros. Como consequência, o câmbio pararia de
cair. Adicionalmente, se a
atividade econômica fosse
colocada nos trilhos, a demanda cresceria mais próxima daquilo que a capacidade
instalada das empresas consegue atender.
O resultado seriam importações crescendo a um ritmo
mais moderado. Parece tudo
muito simples e de muito
bom senso. Então, por que
apostar nos efeitos tão limitados da alta do IOF?
Em primeiro lugar, porque
é uma forma menos antipática de reforçar a arrecadação.
Mas a grande razão parece
ser a atual euforia do pleno
emprego. E a política fiscal
restritiva, um mal necessário, talvez seja adiada para o
próximo governo. Infelizmente, quanto maior a demora, maior a dose do remédio amargo a se tomar.
ROBSON GONÇALVES é professor dos
MBAs da FGV e consultor da FGV Projetos.
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