São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2010

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Justiça francesa condena ex-operador

Jérôme Kerviel, que deu prejuízo de 4,9 bi ao Sociéte Générale em 2008, foi condenado a cinco anos de prisão

Além de ficar preso, ele foi condenado a pagar o prejuízo ao banco; pelo seu salário, teria de trabalhar 178 mil anos

ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

O Tribunal Correcional de Paris condenou a cinco anos de prisão, sendo três em regime fechado, o ex-operador de mercado Jérôme Kerviel, acusado de ter realizado operações fraudulentas que causaram prejuízo recorde de € 4,9 bilhões -cerca de R$ 11 bilhões- ao banco Sociéte Générale, em 2008.
Ele também terá que indenizar o montante integral do prejuízo causado ao banco, no que é considerada a mais severa sentença já pronunciada contra uma pessoa física por um tribunal francês.
Kerviel, que trabalha hoje como consultor em informática e declara receber € 2.300 por mês, teria de trabalhar 178 mil anos para reembolsar o prejuízo. Mas, na prática, a Justiça deve determinar uma contribuição mensal, levando em conta a manutenção de um salário para cobrir as necessidades básicas do ex-operador.
O francês, de 33 anos, foi declarado culpado por abuso de confiança, falsificação e uso de documentos falsos, além de introdução fraudulenta de dados em um sistema informático.
O advogado do ex-trader, Oliver Metzner, classificou a pena de "irracional e inverossímil" e anunciou que vai recorrer da decisão.
Após a decisão da Justiça francesa, observadores, analistas e especialistas reagiram, considerando a decisão demasiado severa.
"É como um elefante que esmaga uma formiguinha. Não é possível que, numa fraude desse tamanho, o banco não seja responsabilizado", opinou à Folha o editor-chefe da editoria de economia da revista francesa "Le Point", Patrick Bonazza.
Para o advogado Daniel Richard, especialista na defesa de clientes de bancos, Kerviel é o "produto de um sistema perverso que encoraja a especulação, o pagamento de bônus milionários e que promove o valor do dinheiro acima de tudo".
Outras vozes também se levantaram contra a sentença, como a do presidente da Euroland Finance, Marc Fiorentino, e a do diretor do Instituto Francês de Altas Finanças, Philippe Dessertine, que, em entrevistas a rádios francesas classificaram a decisão de "aberrante".

TESE RECUSADA
Durante o processo, a defesa de Kerviel tentou demonstrar que a direção do banco teria fechado os olhos para as operações fraudulentas realizadas pelo ex-operador, mas essa tese foi recusada pelo tribunal.
Kerviel, que chegou a movimentar em suas operações fictícias cerca de € 50 bilhões -mais do que o patrimônio líquido do banco-, deve permanecer em liberdade condicional até que seja julgado o recurso interposto por seu advogado.


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