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MINHA HISTÓRIA ALEX KIPMAN, 31
O beethoven do videogame
Em 2000, recebi um telefonema da Microsoft (...) Quando me convidaram para ir para lá, eu ri
RESUMO Autodidata e
programador precoce de
software, o brasileiro Alex
Kipman viveu a adolescência tendo o computador como melhor amigo.
Foi empresário, trabalhou
para a Nasa e, na Microsoft, criou a tecnologia Kinect, que dispensa o controle nos videogames. Para ele, essa transformação
na tecnologia é semelhante à que Beethoven promoveu na música clássica.
Carlos Cecconello/Folhapress
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Kipman, o inventor do jogo controlado
pelo próprio corpo
(...)Depoimento a
CAMILA FUSCO
DE SÃO PAULO
Comecei a ter contato com
a tecnologia quando tinha
cinco anos de idade, jogando
Atari 2600, e desde cedo
acreditei que o software, assim como os games, são as
únicas formas de arte em que
a barreira é a imaginação.
Nasci em Curitiba, mas
morei em Brasília por causa
da carreira do meu pai, diplomata. Cresci numa casa bastante criativa, onde a habilidade de aprender estava
sempre ao meu alcance.
Eu tinha menos de dez
anos quando comecei a fuçar
no computador, um XT. Nessa época comecei a aprender
Basic por conta própria.
Minha adolescência dividiu-se também entre Roma
e Miami. Nunca fui muito
interessado pela escola,
gostava mais de programação, videogame e música.
Sou eclético para sons, tenho 12 mil músicas no meu
bolso, de Metallica a Black
Eyed Peas e pop japonês.
Mas foi na música clássica
que eu descobri semelhanças com a tecnologia.
Beethoven é o meu compositor favorito especialmente porque quebrou todas as regras. Diziam que
não era possível ter criatividade na música clássica,
mas ele mostrou que era
possível não seguir um único padrão.
Essa busca pela novidade
continuou na faculdade. Fiz
engenharia de software com
ênfase em inteligência artificial a partir de 1996, no Rochester Institute of Technology. Aos 19 decidi ter a minha própria companhia de
serviços de tecnologia em
San Francisco.
Era a época pontocom,
que deu origem ao chamado
"dinheiro bêbado", distribuído para todos os lados.
Sempre fui sortudo, mas
também queria um pouco
desse dinheiro. O problema
é que comecei a perder criatividade.
Decidi mudar o rumo e
comecei a trabalhar com
pesquisas para a Nasa na
universidade. Fiz os algoritmos de imagem para que os
cientistas pudessem ver pelos olhos do telescópio acoplado a um avião que tirava
fotos do universo e procurava vida em outros planetas.
Nessa época, eu me dividia entre trabalhos e pesquisas em Nova York, Rochester e Boston. Aprendi a
dormir só no avião, duas
horas por noite -o que faço
até hoje.
Em 2000, eu recebi um telefonema da Microsoft.
Nunca tinha trabalhado
com sistemas da empresa,
usava software open source. Quando me convidaram
para ir para lá, eu ri. Mas decidi conhecer a empresa.
Nessa época, prometi para a minha namorada
Amanda, hoje minha mulher, que não aceitaria.
Quando a Microsoft me ligou, nós tínhamos acabado
de comprar uma casa em
Manhattan.
Mas, ao chegar a Redmond, à sede da Microsoft,
achei surpreendente. Falei
com pessoas brilhantes e no
fim do dia fui recebido por
Bill Gates.
Eu, que não gostava necessariamente da Microsoft,
sempre fui muito fã dele.
Foi uma coisa rápida, ele
perguntou por que eu queria trabalhar lá. Eu me embasbaquei, fiquei fascinado
e, ao contrário do que imaginava, fechei o contrato.
Em 2001 eu me casei,
comprei um cachorro e, em
25 de junho, cheguei à Microsoft. Minha carreira começou em .NET, foi um
aprendizado único. Passei
três anos fazendo isso e trabalhando 20 horas por dia.
Em 2003, eu e um colega
fizemos uma nova apresentação para Bill Gates sobre o
projeto, que durou nada menos do que seis horas.
Também passei por Windows e fizemos várias coisas
interessantes pelo sistema.
Mas o Windows Vista foi um
sonho muito alto. Colocamos a vida nesse sonho, nos
matamos para conseguir
lançá-lo e o Vista ainda levou críticas. Isso me fez
olhar para a vida de um jeito
diferente.
O Kinect aconteceu aqui
no Brasil, enquanto tirei um
tempo da Microsoft, sem
previsão de retorno. Era
2007 e fui então passar uma
temporada no sítio de uma
tia em Taquaral (PR).
É um lugar sem tecnologia nenhuma. Nem o celular
pega. Nesse cenário eu tive
um momento de "eureca": e
se fizéssemos a tecnologia
desaparecer?
Passei a vida jogando videogame, em média 40 horas por semana, mas nunca
tinha trabalhado com isso.
Depois de três semanas
em Taquaral, voltei para
Redmond, fui conversar
com o time de Xbox -entre
eles o próprio criador do videogame, Todd Holmdahl,
que, antes de criar o game,
inventou o mouse óptico em
Stanford.
O Todd foi quem convenceu Bill Gates de que estava
errada a estratégia da Microsoft de não entrar no negócio de videogame. Foi ele
também quem conheceu
meu projeto e acreditou que
seria possível.
Criei o projeto naquele
ano e seguindo a diretriz da
empresa, de batizar o projeto com o nome de uma cidade, dei o nome de projeto
Natal, um dos lugares que
adoro no Brasil. Depois ele
ganhou o nome de Kinect.
Fazer o controle desaparecer no Kinect é uma forma
de apagar a linha divisória
entre os mundos digital e
analógico.
Ver algo na tela e interagir
apertando botões não é natural. Não é um designer de
games que deve determinar
como você interage.
O principal consumidor
dessa tecnologia recém-lançada vai ser principalmente
quem não gosta de games.
Existem 6 bilhões de pessoas no mundo e quero que
elas não somente possam
mas queiram experimentar
esse tipo de arte que eu amo.
Esse é o primeiro sistema de
games feito para todo mundo. A tecnologia mudou.
GLOSSÁRIO
Basic
Linguagem de programação para fins didáticos
Open source
Software de código aberto, ou software livre
.NET
Linguagem de programação da Microsoft
Kinect
Acessório com sensores de movimento que dispensa
o controle ao jogar
FOLHA.com
Veja demonstração do
sistema Kinect
folha.com/mm826163
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