São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

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Empresa vira ícone de cruzada chavista

Presidente da Venezuela ameaça nacionalizar Polar, que produz alimentos e bebidas, do magnata Lorenzo Mendoza

Relação entre governo e empresa oscila há anos; analistas dizem que nacionalização pode ser "bandeira eleitoral"

Jorge Silva - 4.jun.10/Reuters
Globo com emblema da Pepsi começa a ser retirado; Chávez faz ação contra empresa que representa marca na Venezuela

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Na região da praça Venezuela, no coração de Caracas, murais com dizeres socialistas do governo dividem espaço com um enorme globo da Pepsi de 80 toneladas, colado no topo da torre da Polar, a maior empresa de alimentos e bebidas venezuelana.
Mas o cenário "capitalista Miami encontra socialista Havana", típico de várias partes da capital do país de Hugo Chávez, está com os dias contados.
Na última semana, funcionários começaram a desmontar a estrutura, alegando que ela é um risco para transeuntes e que a Polar, representante do refrigerante, não pagou o que devia em impostos pela propaganda.
A desmontagem do globo que existe desde 1999 é a vertente simbólica da "guerra" declarada por Chávez ao magnata da Polar, Lorenzo Mendoza. As ameaças não são novas, mas analistas e observadores políticos enxergam elementos que fazem essa ofensiva mais grave que as anteriores.
Um dos motivos é que, agora, quando o governo controla dez usinas de açúcar, 75% da produção de café e 62% do mercado de farinha de milho, Chávez se sentiria em condições de controlar a empresa que é um dos maiores símbolos da iniciativa privada e, mesmo com toda a verba do governo para propaganda, ainda o maior anunciante venezuelano.
Chávez dedicou parte das suas seis horas de transmissão em cadeia obrigatória de rádio e TV, na última quarta-feira, a entrevistas com trabalhadores da neoestatal Diana, fabricante de óleo e manteiga. Todos diziam que estavam em melhores condições de trabalho sob a batuta do Estado e que haviam mantido os empregos.
O esforço foi lido como uma mensagem aos mais de 30 mil trabalhadores diretos da Polar. Parte deles reagiu à "aquisição forçosa" de galpões da empresa em Barquisimeto, formalizada em abril, e anunciaram estar em "alerta permanente". Há displays em algumas cidades com o slogan "Todos somos Polar", ação que irrita o governo.
Chávez tem repetido que tanto a inflação alta como a escassez de alguns itens é produto da especulação e do armazenamento ilegal de produtos por empresas como a Polar, que, além do carro-chefe das cervejas, faz a Harina Pan, marca mais famosa de farinha de milho para a arepa, base da alimentação.
Para o economista Pavel Gómez, a ofensiva pode se converter em bandeira eleitoral do governo para as eleições legislativas de setembro. "Representa a Justiça agindo contra os poderosos."
Segundo ele, a ofensiva enviaria ao setor privado a mensagem de que não tolerará o financiamento da campanha da oposição.

COMIDA PODRE
"Na relação com a Polar, houve muito morde e assopra. A empresa é um alvo importante e a nacionalização dependerá do quanto de solidariedade a empresa ainda é capaz de gerar. Cada vez que cai um empresário, a resistência fica ainda menor", diz o jornalista Juan Carlos Zapata, do jornal "El Mundo".
O governo, porém, ganhou nesta semana um escândalo para administrar, que pode tirar o foco da Polar: a descoberta de ao menos 70 mil toneladas de comida importada apodrecendo em contêineres estatais. Chávez teve de falar do tema várias vezes e a imprensa não estatal dá destaque ao assunto.


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