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Impostos "mordem" 46% da alta do PIB
De cada R$ 100 gerados pelo crescimento econômico entre 1994 e 2009, R$ 46 são tributados, equivalente a R$ 500 bi
Gasto público também cresce R$ 500 bi no período; investimento fica com 18% do PIB, contra 44% na China
ÉRICA FRAGA
SÃO PAULO
Quase metade do crescimento da produção de bens e
serviços contabilizada no
Brasil nos últimos 15 anos foi
apropriada pelo governo por
meio da cobrança de impostos, impulsionando um aumento igualmente expressivo do gasto público.
Cálculos do economista-chefe do Santander, Alexandre Schwartsman, mostram
que o PIB (Produto Interno
Bruto) cresceu quase
R$ 1,1 trilhão entre 1994 e
2009 em termos reais (descontada a inflação).
No mesmo período, a carga tributária aumentou cerca
de R$ 500 bilhões, o equivalente a 46% do crescimento
da produção nacional.
A mordida foi maior nos
anos FHC, entre 1994 e 2002,
(60% da alta do PIB) do que
no governo Lula, entre 2003 e
2009 (42%). Mas ambos os
números são considerados
muito altos.
O aumento da carga em relação à expansão do PIB se
traduziu em crescimento da
mesma magnitude do gasto
público, que subiu R$ 500 bilhões entre 1994 e 2009.
TRIBUTAÇÃO EXCESSIVA
Segundo Schwartsman,
seus cálculos indicam que o
impacto da cobrança de impostos no Brasil é ainda
maior do que o sugerido pela
alta carga tributária, que foi
de 33,6% do PIB em 2009.
As contas mostram que
para cada R$ 100 de crescimento adicional da produção entre 1994 e 2009, R$ 46
foram absorvidos pelo governo (incluindo União, Estados
e municípios).
"Essa é uma forma imperfeita de se calcular a alíquota
marginal de imposto. E esse
percentual de 46% é muito
alto, o significa que o incentivo para investir no Brasil é
baixo", diz Schwartsman.
Entre abril e junho, a taxa
de investimento brasileira
voltou para o nível de 18% do
PIB, atingido antes da crise
de 2008. A taxa é considerada baixa, inferior à de outros
países emergentes como Colômbia (24,2%), Índia (32%),
México (22%) e China (44%).
Essa base estreita tende a
impedir que o atual ritmo forte de crescimento dos investimentos seja sustentável a
menos que barreiras como a
alta carga tributária e o baixo
gasto público em infraestrutura sejam atacadas.
"O investimento privado já
esbarra em diversos gargalos. Para que sustente uma
taxa alta de expansão, o governo precisa aumentar a fatia dos gastos destinados a
melhorar a infraestrutura",
diz André Loes, economista-chefe do HSBC.
GASTO PÚBLICO
Embora tenha aumentado
recentemente, o investimento público representa uma fatia pequena das volumosas
despesas do governo.
Nos 12 meses encerrados
em julho deste ano, o investimento público (sem considerar despesas das estatais)
atingiu cerca de 1,3% do PIB,
de acordo com estimativa do
Itaú Unibanco.
Segundo Mauricio Oreng,
economista do Itaú Unibanco, tem ocorrido uma melhora na qualidade do gasto público em 2010. As despesas
do governo federal com investimentos cresceram 42%
em termos reais no segundo
trimestre em relação ao mesmo período de 2009, contra
5,8% de aumento dos gastos
com pessoal.
O Orçamento proposto para 2011 prevê uma continuação da tendência recente de
aumento da participação do
investimento público no PIB.
Mas, mesmo que isso se
confirme, a folga para aumentar investimentos é pequena, já que uma forte expansão de despesas obrigatórias (como pagamento de
aposentadorias e pensões)
nos últimos anos diminuiu a
flexibilidade do Orçamento.
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