São Paulo, terça-feira, 07 de setembro de 2010

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ANÁLISE CAFEICULTURA

Momento é propício para o café brasileiro entrar em NY

SYLVIA SAES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A discussão sobre a possibilidade da entrega do café brasileiro na Bolsa de mercadorias de Nova York não é recente. É no mínimo estranho que o maior exportador mundial de café não esteja qualitativamente representado na principal Bolsa de futuros do produto.
No entanto, se até hoje não temos o café brasileiro no ICE Futures, por que deveríamos agora defender seu ingresso?
Ou, em outras palavras, quais as implicações da entrada do Brasil nesse mercado? Em primeiro lugar, trata-se de um momento propício para o ingresso. Não se deve desaproveitar o interesse da ICE Futures, manifestada em recente consulta.
Há cerca de dez anos, não apenas a resistência dos concorrentes era considerável, como a própria Bolsa não parecia muito preocupada com a inclusão do Brasil.
Afinal, o contrato comercializado na Bolsa de Nova York -contrato C- baseia-se nos chamados cafés lavados, cujos maiores produtores são Colômbia, México, El Salvador, Guatemala, Peru, Índia e Quênia.
No Brasil, tradicional produtor de café natural, o uso de técnicas de beneficiamento similares às do café lavado aumentou somente na atual década.
Essa técnica, que resulta no café despolpado, é usada em cerca de 4 milhões de sacas da produção brasileira.
Esse volume tem garantido o equilíbrio do mercado diante da demanda crescente de cafés lavados. A entrada na Bolsa beneficiará os cafeicultores, fornecendo-lhes um instrumento redutor de riscos. Da mesma forma, incentivará maiores investimentos nesse segmento promissor.
Além disso, é considerável a oportunidade de valorização do café brasileiro no mercado internacional. Historicamente, o café natural brasileiro é comercializado com deságio em relação aos cafés lavados.
Já o café despolpado produzido no Brasil, negociado diretamente no mercado, tem alcançado paridade com outros cafés despolpados. Assim, a participação do Brasil na Bolsa atesta o reconhecimento da qualidade do produto, mudando o posicionamento do país no mercado de cafés de qualidade.
Vale ressaltar que as provas de qualidade, realizadas em Nova York, resultaram na superação de barreiras de natureza técnica para a inclusão do Brasil. Por fim, ganha o mercado.
O ingresso na Bolsa implica maior liquidez, redução dos custos de transação e a possibilidade de um melhor gerenciamento de risco para o setor. Nossa competitividade também ganha alento, com a ampliação da visibilidade do café brasileiro.

SYLVIA SAES é professora do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).



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