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ANÁLISE CAFEICULTURA
Momento é propício para o café brasileiro entrar em NY
SYLVIA SAES
ESPECIAL PARA A FOLHA
A discussão sobre a possibilidade da entrega do café
brasileiro na Bolsa de mercadorias de Nova York não é recente.
É no mínimo estranho que
o maior exportador mundial
de café não esteja qualitativamente representado na
principal Bolsa de futuros do
produto.
No entanto, se até hoje não
temos o café brasileiro no ICE
Futures, por que deveríamos
agora defender seu ingresso?
Ou, em outras palavras,
quais as implicações da entrada do Brasil nesse mercado?
Em primeiro lugar, trata-se
de um momento propício para o ingresso. Não se deve desaproveitar o interesse da ICE
Futures, manifestada em recente consulta.
Há cerca de dez anos, não
apenas a resistência dos concorrentes era considerável,
como a própria Bolsa não parecia muito preocupada com
a inclusão do Brasil.
Afinal, o contrato comercializado na Bolsa de Nova
York -contrato C- baseia-se
nos chamados cafés lavados,
cujos maiores produtores são
Colômbia, México, El Salvador, Guatemala, Peru, Índia e
Quênia.
No Brasil, tradicional produtor de café natural, o uso
de técnicas de beneficiamento similares às do café lavado
aumentou somente na atual
década.
Essa técnica, que resulta
no café despolpado, é usada
em cerca de 4 milhões de sacas da produção brasileira.
Esse volume tem garantido o equilíbrio do mercado
diante da demanda crescente de cafés lavados.
A entrada na Bolsa beneficiará os cafeicultores, fornecendo-lhes um instrumento
redutor de riscos. Da mesma
forma, incentivará maiores
investimentos nesse segmento promissor.
Além disso, é considerável
a oportunidade de valorização do café brasileiro no mercado internacional.
Historicamente, o café natural brasileiro é comercializado com deságio em relação
aos cafés lavados.
Já o café despolpado produzido no Brasil, negociado
diretamente no mercado,
tem alcançado paridade com
outros cafés despolpados.
Assim, a participação do
Brasil na Bolsa atesta o reconhecimento da qualidade do
produto, mudando o posicionamento do país no mercado
de cafés de qualidade.
Vale ressaltar que as provas de qualidade, realizadas
em Nova York, resultaram na
superação de barreiras de natureza técnica para a inclusão do Brasil.
Por fim, ganha o mercado.
O ingresso na Bolsa implica
maior liquidez, redução dos
custos de transação e a possibilidade de um melhor gerenciamento de risco para o
setor. Nossa competitividade
também ganha alento, com a
ampliação da visibilidade do
café brasileiro.
SYLVIA SAES é professora do
Departamento de Administração da
Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São
Paulo (FEA-USP).
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