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ANÁLISE
Falta de confiança na economia dos EUA ameaça plano do Fed
Com empresas e famílias sem disposição para gastar, cresce pressão para que país tome medida mais radical
Para que ação do banco central americano dê resultado, é preciso que crédito mais barato estimule as companhias a investir
DO "FINANCIAL TIMES"
Com a economia dos Estados Unidos saindo lentamente da recessão, o Federal Reserve (o banco central do
país) se esforça para sinalizar
que está pronto a agir.
Na quarta-feira, chegou o
momento da ação -uma
grande ação. Mas o muito
alardeado retorno ao relaxamento quantitativo, ou QE2
("quantitative easing 2"),
ameaça, acima de tudo, tornar-se uma demonstração da
impotência da instituição.
Os mercados de títulos já
haviam incorporado o QE2
aos seus preços; e, na verdade, parecem ter considerado
o anúncio um tanto tímido.
O rendimento dos títulos
de dez anos do Tesouro fechou em 2,58% -acima do
nível do final de agosto,
quando Ben Bernanke, o presidente do Fed, começou a
comunicar a intenção de reiniciar as compras de ativos.
O rendimento dos títulos
de 30 anos está no momento
0,5% acima disso, o que reflete a opção do Fed por direcionar seu poderio de fogo
aos juros de médio prazo.
Em contraste, os mercados
de ações estão eufóricos: da
terça-feira para cá, os índices
mais importantes subiram
todos mais de 2%.
AÇÕES EM ALTA
Os investidores em ações
têm bons motivos para celebrar, porque Bernanke parece ter assumido o manto de
Alan Greenspan. Ele favorece
explicitamente preços mais
altos para as ações, bem como rendimentos mais baixos
para os títulos.
Para que a mexida do Fed
nos preços dos ativos afete
mais que os resultados relativos daqueles que apostam
nas altas e daqueles que
apostam nas baixas do mercado, o crédito empresarial
mais barato precisa estimular as companhias a investir.
Mas os EUA estão aprisionados na maior das armadilhas de liquidez: as grandes
empresas não financeiras
têm altas reservas de caixa.
Não são os custos de captação que desestimulam os investimentos, e sim a incerteza sobre o futuro.
O resultado das eleições
da semana passada não porá
fim a essa incerteza. Os políticos obcecados quanto à dívida nacional podem agravar
ainda mais a situação.
E tampouco se pode depositar confiança no consumo.
Bernanke espera que o
QE2 estimule os gastos ao reduzir os juros hipotecários.
Mas esse efeito será mais
que compensado pelo medo
de quedas nos preços das casas e pelo número de proprietários acorrentados a hipotecas de juros fixos porque
suas casas valem menos que
o saldo devedor de seus contratos de crédito imobiliário.
Também porque a grande
máquina de refinanciamento
imobiliário está paralisada.
Restam as exportações.
Os futuros embarques de
US$ 600 bilhões em dólares
recém-impressos forçarão a
queda do dólar e beneficiarão os exportadores americanos. Porque estes respondem
por apenas um oitavo do PIB,
porém, não se pode confiar
neles para grande aceleração
na economia.
INFLAÇÃO
Nessas circunstâncias, o
QE2 talvez não tenha sido radical o bastante.
Crescem os apelos para
que a autoridade monetária
do país assuma compromisso mais forte quanto a inflacionar a economia, declarando sua disposição de exceder
as metas inflacionárias
atuais ou adotando uma meta para o nível de preços que
exija recomposição forçada
depois de um período de baixa inflação.
Bernanke e seus colegas
certamente ponderaram essas opções e as consideraram
arriscadas demais. Em breve
podem se ver forçados a reconsiderar.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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