São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Falta de confiança na economia dos EUA ameaça plano do Fed

Com empresas e famílias sem disposição para gastar, cresce pressão para que país tome medida mais radical

Para que ação do banco central americano dê resultado, é preciso que crédito mais barato estimule as companhias a investir


DO "FINANCIAL TIMES"

Com a economia dos Estados Unidos saindo lentamente da recessão, o Federal Reserve (o banco central do país) se esforça para sinalizar que está pronto a agir.
Na quarta-feira, chegou o momento da ação -uma grande ação. Mas o muito alardeado retorno ao relaxamento quantitativo, ou QE2 ("quantitative easing 2"), ameaça, acima de tudo, tornar-se uma demonstração da impotência da instituição.
Os mercados de títulos já haviam incorporado o QE2 aos seus preços; e, na verdade, parecem ter considerado o anúncio um tanto tímido.
O rendimento dos títulos de dez anos do Tesouro fechou em 2,58% -acima do nível do final de agosto, quando Ben Bernanke, o presidente do Fed, começou a comunicar a intenção de reiniciar as compras de ativos.
O rendimento dos títulos de 30 anos está no momento 0,5% acima disso, o que reflete a opção do Fed por direcionar seu poderio de fogo aos juros de médio prazo.
Em contraste, os mercados de ações estão eufóricos: da terça-feira para cá, os índices mais importantes subiram todos mais de 2%.

AÇÕES EM ALTA
Os investidores em ações têm bons motivos para celebrar, porque Bernanke parece ter assumido o manto de Alan Greenspan. Ele favorece explicitamente preços mais altos para as ações, bem como rendimentos mais baixos para os títulos.
Para que a mexida do Fed nos preços dos ativos afete mais que os resultados relativos daqueles que apostam nas altas e daqueles que apostam nas baixas do mercado, o crédito empresarial mais barato precisa estimular as companhias a investir.
Mas os EUA estão aprisionados na maior das armadilhas de liquidez: as grandes empresas não financeiras têm altas reservas de caixa.
Não são os custos de captação que desestimulam os investimentos, e sim a incerteza sobre o futuro. O resultado das eleições da semana passada não porá fim a essa incerteza. Os políticos obcecados quanto à dívida nacional podem agravar ainda mais a situação.
E tampouco se pode depositar confiança no consumo. Bernanke espera que o QE2 estimule os gastos ao reduzir os juros hipotecários.
Mas esse efeito será mais que compensado pelo medo de quedas nos preços das casas e pelo número de proprietários acorrentados a hipotecas de juros fixos porque suas casas valem menos que o saldo devedor de seus contratos de crédito imobiliário.
Também porque a grande máquina de refinanciamento imobiliário está paralisada. Restam as exportações.
Os futuros embarques de US$ 600 bilhões em dólares recém-impressos forçarão a queda do dólar e beneficiarão os exportadores americanos. Porque estes respondem por apenas um oitavo do PIB, porém, não se pode confiar neles para grande aceleração na economia.

INFLAÇÃO
Nessas circunstâncias, o QE2 talvez não tenha sido radical o bastante. Crescem os apelos para que a autoridade monetária do país assuma compromisso mais forte quanto a inflacionar a economia, declarando sua disposição de exceder as metas inflacionárias atuais ou adotando uma meta para o nível de preços que exija recomposição forçada depois de um período de baixa inflação.
Bernanke e seus colegas certamente ponderaram essas opções e as consideraram arriscadas demais. Em breve podem se ver forçados a reconsiderar.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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