São Paulo, domingo, 08 de maio de 2011

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Receita baixa dificulta cessão de aeroporto

Volume reduzido de faturamento em Brasília, Viracopos e Confins pode inviabilizar concessão nos moldes de Guarulhos

Total de recursos com exploração comercial nos três terminais é visto como pequeno para compensar investimento

DIMMI AMORA
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

A privatização de aeroportos sonhada pelo governo Dilma Rousseff esbarra na realidade econômica.
Alvos declarados do programa, os aeroportos de Brasília (DF), Viracopos (SP) e Confins (MG) têm baixo volume de receitas, o que pode impedir o governo federal de fazer um edital de concessão semelhante ao previsto para o lucrativo Guarulhos (SP) a fim de viabilizar as obras necessárias.
Em Guarulhos, onde o governo pretende que a iniciativa privada construa o terminal de passageiros número 3 (o T3) e fique com as receitas comerciais dele (lojas, estacionamento, espaços de restaurantes, entre outros), as atividades comerciais dos dois terminais existentes renderam 432% acima do custo delas em 2009, segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Para um custo anual de R$ 45 milhões (não contadas as despesas internas da sede da Infraero e a depreciação), o faturamento foi de R$ 237 milhões. O valor estimado da obra do T3 é R$ 653 milhões.

SUBSÍDIO
Para os outros terminais previstos de concessão, a questão é outra. Além do baixo volume de receita, aumentaria a retirada de recursos dos apenas 12 terminais lucrativos da Infraero que subsidiam os outros 56 públicos que dão prejuízo.
Em Brasília, a obra tem previsão de custar R$ 732 milhões, mais que em Guarulhos. Mas a receita com comércio é de apenas R$ 41 milhões -menos de 20% do aeroporto paulista. A despesa foi de R$ 9,2 milhões.
Os valores indicam um lucro alto na área comercial, mas o volume de recursos é baixo para compensar o investimento. Em Brasília, 55% do faturamento é das atividades de voo, que, no modelo de Guarulhos, continuarão com a Infraero.
Em Viracopos, a obra custaria R$ 523 milhões, pouco menos do que em Guarulhos. No entanto, a receita comercial lá é de apenas R$ 25 milhões (com despesas de R$ 6,8 milhões), repetindo o modelo de Brasília.
Pelos estudos preliminares do governo, a concessão do novo terminal de Guarulhos ao setor privado é viável economicamente apenas com a exploração das áreas comerciais, mas não há segurança de que isso ocorreria também em Viracopos e em Brasília.

COMPENSAÇÃO
Segundo técnicos, talvez seja necessário transferir ao vencedor da licitação áreas comerciais dos atuais terminais (caso de Brasília) ou prever algum tipo de operação da logística de carga (caso de Viracopos) para tornar esses negócios viáveis.
Em Campinas, por exemplo, a operação de carga é considerada o principal filão. Com faturamento de R$ 130 milhões (despesas de R$ 102 milhões), é responsável pela maior parte da receita, com potencial de crescimento ainda maior.
Mas, por enquanto, o governo ainda não tem um modelo para conceder a operação de carga à iniciativa privada. Atividades ligadas ao fluxo de passageiros, por enquanto, não bancariam os investimentos na expansão do aeroporto.
Em Confins, a obra do novo terminal tem custo baixo (R$ 232 milhões). A previsão é que também sejam feitos nova pista e pátio de manobras por R$ 166,9 milhões.
Como em Brasília, a receita comercial é pequena (R$ 35 milhões) e também quase não movimenta carga (R$ 10,9 milhões).


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