São Paulo, domingo, 08 de maio de 2011

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Operário da Foxconn se queixa de pressão e ritmo de trabalho

Funcionários no Brasil reclamam de "coação" para fazer hora extra; procurada, empresa não se pronuncia

Varas do Trabalho de Jundiaí têm 166 ações; procurador diz que chinesas mostram querer se adaptar a país

NATÁLIA PAIVA
DE SÃO PAULO

"Da porta para fora, é uma coisa. Lá dentro, é outra", cochicha à Folha um dos funcionários em Jundiaí da Foxconn, a gigante asiática que anunciou em abril investimentos de US$ 12 bilhões para produzir iPads no Brasil.
Operários na linha de produção da maior fornecedora de componentes eletrônicos do mundo reclamam de coação para fazer hora extra, pressão para atingir metas, ritmo de trabalho hiperintenso, múltiplos contratos de experiência e alta rotatividade. "Dizem que precisam de gente para sábado e domingo. Se a gente diz que não dá, perguntam: "Por quê? Que compromisso você tem?". Falam bem perto, assim [indica proximidade face a face]. A gente se sente coagido."
Nas varas do Trabalho de Jundiaí, há 166 ações contra a Foxconn, que emprega cerca de 3.000 pessoas na cidade. Dessas, 87% foram contratadas a partir de 2009. A Itautec, com 1.600 funcionários, acumula 151 ações desde 1994. A chinesa AOC (com 1.000 empregados), 41 ações desde 2008. A Foxconn não se pronunciou.
No ano passado, a empresa teve de modificar condições de trabalho na China após uma onda de suicídios.

CRESCIMENTO RÁPIDO
Erazê Sutti, advogado do sindicato dos metalúrgicos da região, diz que há problemas em todo o setor, mas que a Foxconn cresceu muito rápida e desordenadamente.
"Por causa da demanda de trabalho, com horas extras, ela conseguiu causar lesão em trabalhadores em seis meses, coisa que a gente não imaginava ser possível."
Uma das principais queixas nas ações, diz Sutti, é doença do trabalho. "Você tem de se adaptar ao posto, eles não pensam no corpo do funcionário", reclama uma operária. O advogado salienta, contudo, que "são poucas as empresas que respeitam as normas de ergometria".
Outras queixas recorrentes eram múltiplos contratos de experiência -o que é ilegal. "Isso diminuiu um pouco com o crescimento da economia e a falta de mão de obra." Mas funcionários ainda reclamam dessa prática. O histórico da Foxconn em Jundiaí e em Indaiatuba, as maiores das cinco fábricas do grupo no país, apresenta idas e vindas com o Ministério Público. Em 2007, mil temporários foram regularizados, 21 estrangeiros foram deportados e a empresa pagou multa superior a R$ 50 mil.
"Eles ficaram mais atentos à legislação, até porque senão pesa no bolso", diz Sutti. Na Zona Franca de Manaus, onde há cerca de 5.000 brasileiros em mais de dez empresas chinesas, há relatos, via sindicato, de coação. Na porta das fábricas chinesas, no entanto, é difícil encontrar quem fale sobre o tema. Mas a advogada Geysa Mitz, que assessora dez sindicatos, diz que metade de suas ações por assédio (humilhação na frente de colegas) está ligada às chinesas.
O procurador-geral do Trabalho, Otavio Brito Lopes, afirma que, quando há problemas, as empresas chinesas costumam "mostrar que querem se adaptar". "Elas desejam ocupar mais espaço no Brasil e não querem que a questão cultural seja usada como argumento contrário."
Colaboraram CLAUDIA ROLLI, de São Paulo, e KÁTIA BRASIL, de Manaus


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