São Paulo, domingo, 08 de maio de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Indústria "criativa" aquecida atrai artista e esportista ao país

Ministério do Trabalho aponta que concessão de vistos a esses profissionais cresceu quase 30% no ano passado

Real forte, maior renda da população e mercado mais profissional são os grandes atrativos para a vinda de estrangeiros

Zé Carlos Barretta/Folhapress
Jesus Martinez, pintor espanhol que veio trabalhar no Brasil; fluxo do seu país subiu 283%

VERENA FORNETTI
DE SÃO PAULO

A permissão de trabalho para artistas e esportistas estrangeiros, que recebem a mesma categoria de visto do governo brasileiro, cresceu quase 30% em 2010 ante 2009 e mais que dobrou em relação a 2004, quando o país retomou a trajetória de crescimento.
Os números do Ministério do Trabalho incluem só os que vêm para eventos determinados, sem vínculo, e abrangem também os que auxiliam essas profissões.
No ano passado, 8.470 profissionais dessas áreas conseguiram autorização para atuar no Brasil. O número representa 15% do total de estrangeiros que receberam visto de trabalho no período.
O avanço na renda da população (que impulsionou a indústria do entretenimento), a maior profissionalização do mercado e o real forte são os principais motivos para a vinda dos trabalhadores.
Marcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz que a "indústria criativa" ganhou novo fôlego.
"Os países pobres basicamente eram os geradores de trabalho. O tempo livre nesses lugares não se tornava atrativo", diz.

DINAMISMO
Ele destaca que há uma mudança de fluxo, já que empresas e trabalhadores passam a buscar oportunidades de ganho em economias mais dinâmicas.
Em 2010, os que mais mandaram profissionais das artes e dos esportes foram os EUA, o Reino Unido e a Alemanha.
A Espanha é outro destaque, com 283% de incremento ante 2009. De lá veio o pintor Jesus Martinez, 34.
"Há muitas coisas acontecendo no país. Esse é o impulso [para vir para cá]. É um país vivo, e você vê que está no ânimo de crescer", diz.
A sócia da Paralelo Gal- lery, Flavia Marujo, que convidou o pintor espanhol, diz que as galerias estão se internacionalizando. "Mudou o olhar sobre o país, e isso acaba sendo oportunidade."
Marcelo Lopes, da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), tem igual percepção. Segundo ele, ficou mais fácil convencer solistas e regentes estrangeiros a se apresentar no Brasil como convidados da orquestra.
Também cita a regulamentação como fator de atração -no caso, para os que atuam com vínculo empregatício.
Na orquestra, 35% dos músicos vêm de fora. "A Osesp é pioneira. Fomos a primeira orquestra a regularizar a mão de obra estrangeira."

MELHORES SALÁRIOS
O diretor da Osesp diz que a melhora dos salários elevou a atratividade para estrangeiros. Ele destaca que o salário mais baixo de um músico era cerca de R$ 5.000 em 2004; hoje, atinge R$ 9.000.
No mercado de esportes, as confederações também relatam a mesma combinação: maior profissionalização e remuneração em alta.
"Não só nossa moeda está se valorizando como estamos mais ricos. Ficou mais barato trazer gente", afirma Luiz Gustavo, da CBF.
Ele diz que cresceu a presença, principalmente de sul-americanos, assim como a atração de recursos para os times. "Hoje tem patrocínio até na manga da camisa."
Roberto Gesta, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, diz que o país tem apostado em modalidades que não tinha tradição, o que demanda mão de obra estrangeira. Em 2010, seis cubanos chegaram ao país para trabalhar como técnicos; neste ano, dois treinadores vieram da Ucrânia para o Rio.


Texto Anterior: "Adrenalina" e novos desafios atraem profissionais a empresas
Próximo Texto: Marcelo Neri: Miséria: medição e meta
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.