São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2010

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ALEXANDRE HOHAGEN

Inovação simples e óbvia


A web abre possibilidades indiscutíveis de melhoria de produtividade nas grandes corporações


HÁ DUAS semanas desembarquei em San Francisco, Califórnia, para uma rodada de reuniões com pessoas ligadas ao Google. Parte de uma rotina atribulada de viagens nos últimos cinco anos. Mas dessa vez havia uma diferença inesquecível: o avião pousou justamente quando começava um dos jogos do Brasil na Copa e ainda havia um fio de esperança para nossa seleção.
Eu já sabia do risco, mas estava relativamente tranquilo, pois acreditava que poderia seguir o resultado em algum canto. Sai apressado do avião e ainda dentro do aeroporto vejo um restaurante e algumas pessoas vidradas na partida. Como teria ainda que buscar minha bagagem e alugar um carro, conferi o resultado e segui meu caminho.
Chego para pegar minhas malas e fico impaciente. Ali, nenhuma mídia tradicional sintonizada na Copa. A vida continuava normal. Minha única saída foi conectar o celular a algum aplicativo (o mais fascinante para mim, nesta Copa, é o Worldcup Droid, criado por desenvolvedores brasileiros) ou acompanhar o jogo por um dos portais da web que informam a partida minuto a minuto.
Deu certo. Fico sabendo quase em tempo real que a seleção havia marcado o primeiro gol. Mala nas mãos, carro ligado... pronto para seguir meu caminho e quem sabe assistir ao segundo tempo sem grandes problemas. Aí vem o desespero. Não havia nenhuma rádio transmitindo o jogo. Como sou absolutamente consciente do risco de olhar no celular enquanto dirijo, desisto.
Hoje parece tão óbvio o papel que a tecnologia deve ter na estratégia de inovação das empresas. Mas são poucas as companhias que a utilizam de maneira convincente. Uma das reuniões de que participei nesta viagem à Califórnia foi com um senhor muito simpático, no auge de seus 60 e tantos anos. Em seu indefectível colete vermelho com um grande logotipo da empresa, Alan Mullaly -CEO mundial da Ford- está revolucionando conceitos numa indústria pra lá de tradicional.
Uma de suas brilhantes ideias reside numa simplicidade absurdamente óbvia. Em suas próprias palavras: "Quero meus clientes com as mãos no volante, olhos na estrada e totalmente conectados à internet".
O carro deve ser a extensão da conectividade móvel que já nos é tão familiar. Hoje, isso ainda é um desafio para essa indústria (o que usamos além do viva-voz e do GPS?). Observe que a Copa do Mundo levou a internet a novos recordes de audiência. Algumas pesquisas dão conta de que mais de 12 milhões de internautas acessaram novas páginas a cada minuto durante a abertura dos jogos. Quer dizer: as pessoas já buscam informações na rede mundial o tempo todo e de forma crescente. Nada mais normal que façam o mesmo enquanto dirigem.
Se o sr. Mullaly pudesse descrever como deveria ter sido minha experiência, seria assim: chego ao aeroporto, vejo o resultado no meu celular, entro no carro e ele me conecta instantaneamente à web. Entro na minha agenda, que me indica aonde devo ir, meu próximo compromisso, o endereço do hotel, a rota, o mapa.
Abro meu portal favorito e o Google transforma em voz os textos que estão sendo atualizados. Consigo ouvir o que está acontecendo no jogo, minuto a minuto.
Assim como a Ford, é hora de as empresas se debruçarem na busca de soluções simples e óbvias baseada nos novos conceitos de interatividade e colaboração. Imagine que economia teria uma empresa se combinasse atividades de call center com uma plataforma wiki (base de conhecimento interativo e aberto para colaboração de usuários), em que usuários registram suas perguntas e outros usuários as respondem.
Em vez de ligar para uma central de atendimento, busco na internet minha dúvida e como resolvê-la. Ou uma rede de supermercados que compare a cada minuto preços de seus produtos básicos versus a concorrência, divulgando em tempo real na internet e no celular para poder atrair mais consumidores.
Essa mesma web já revolucionou como nos informamos, nos comunicamos, nos relacionamos e como compramos. Agora -talvez em sua versão 3.0- abre possibilidades indiscutíveis de melhoria de produtividade nas grandes corporações. Sim, a internet já permeia a sociedade e a economia de forma ampla e os consumidores da sua empresa estão conectados. Resta às companhias a tarefa de usar essa simplicidade óbvia da web em prol de seus negócios.

ALEXANDRE HOHAGEN, 42, jornalista e publicitário, fundou a operação do Google no Brasil em 2005 e desde 2009 é presidente da empresa na América Latina. Escreve mensalmente, às quintas, nesta coluna.

colunadohohagen@gmail.com



AMANHÃ EM MERCADO:
Rodolfo Landim


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