São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2010

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Concentração reflete o peso dos clientes, diz BNDES

Diretor de planejamento do banco nega que concessão de empréstimos favoreça grupos bem relacionados

Órgão justifica apoio aos grandes grupos pelo maior volume de investimentos que eles fazem no Brasil

DE SÃO PAULO

O diretor de planejamento do BNDES, João Carlos Ferraz, atribui o elevado grau de concentração da carteira de empréstimos do banco ao peso que seus maiores clientes têm nos investimentos em curso no país. Ferraz rejeita a ideia de que ele seja indício de favorecimento de grupos bem relacionados politicamente. (RICARDO BALTHAZAR)

Folha - Por que a carteira do banco é tão concentrada? João Carlos Ferraz - É um reflexo do que se observa na economia. O investimento no país é concentrado. No ano passado, as cinco maiores empresas brasileiras foram responsáveis por 15% dos investimentos feitos no país. Os cinco maiores clientes do BNDES receberam 13% dos recursos. Um quarto dos trabalhadores com carteira assinada no país trabalham para fornecedores da Petrobras. São os grandes grupos que fazem a maior parte dos investimentos no país e é por isso que o banco os apoia.

Sobra pouco dinheiro para as empresas menores?
A maior parte dos recursos do programa especial que lançamos para máquinas e investimentos no ano passado foi destinado a micro e pequenas empresas. Graças aos repasses que o banco recebeu do Tesouro, não precisamos fazer escolhas que beneficiem determinados clientes em detrimento de outros.

Empresas como a Petrobras e a Vale têm acesso a outras fontes de financiamento no mercado em condições competitivas. Por que apoiá-las?
O mercado de capitais brasileiro ainda é muito restrito para as necessidades de financiamento que o país tem. É verdade que muitas empresas têm acesso a crédito no exterior. Mas, quando você toma dinheiro lá fora, precisa fazer outra operação para se proteger contra o risco de variação cambial. Mesmo empresas de primeira linha não conseguem captar recursos no exterior a um custo menor que o oferecido pelo BNDES.

Que benefícios o país tem com a formação de grandes grupos nacionais como os que o banco tem estimulado?
A concentração pode ajudar esses grupos a reduzir custos, ficar mais eficientes e ter recursos para investir no enobrecimento de suas linhas de produtos. Se a consolidação dos setores em que o banco atua está afetando a concorrência ou não, cabe às autoridades da área examinar o problema. Mas esse processo ocorre a despeito do BNDES. O capitalismo brasileiro está amadurecendo.

O banco não corre riscos excessivos ao apostar nesses grupos?
O banco entra nessas operações para gerar valor. Nos grandes movimentos que tiveram nosso apoio, as empresas tentam agregar valor a seus produtos. Mas os processos de fusão são decididos pelos empresários. O BNDES viabiliza financeiramente as operações, mas quem toma a decisão são eles. Se uma empresa não quiser casar com outra, não há banco no mundo que promova a união. Agora, o risco é sempre um componente. Se não fosse assim, teríamos alcançado o nirvana, o capitalismo sem riscos, e tudo que as pessoas iam querer era comprar ações do BNDES.


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