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China prioriza ensino profissionalizante
Depois de investir pesadamente em universidades de elite, país lança plano focado em educação técnica
Nos últimos três anos, os recém-formados encontram cada vez menos posições no mercado de trabalho
FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM
Depois de criar universidades de elite e de se tornar o
país com mais estudantes de
ensino superior do mundo, a
China lançou no mês passado um plano de educação para a próxima década focado
no ensino profissionalizante
e na descentralização como
forma de atender melhor o
mercado de trabalho.
"A revolução agora é criar
condições de trabalho aos estudantes", disse à Folha
Dongmao Wen, pró-reitor da
Escola de Educação da Universidade de Pequim.
As novas orientações foram formalizadas no documento Programa de Reforma
e Desenvolvimento da Educação Nacional 2010-2020,
resultado de um encontro do
dia 13 de julho, em Pequim,
com as 200 maiores autoridades educacionais do país.
Entre as principais metas
está o "desenvolvimento vigoroso da escola vocacional", o equivalente ao ensino
profissionalizante, com duração média de dois anos.
"É o canal mais importante para (...) aliviar as contradições da estrutura de oferta
e demanda do mercado de
trabalho", diz o documento.
"O principal objetivo é a
capacitação para o mercado
de trabalho. É por isso que a
massificação das escolas vocacionais ocupou o lugar da
educação universitária em
massa [no programa]", disse,
Liu Chengbo, diretor associado do Centro Nacional de
Pesquisa em Desenvolvimento Educacional do Ministério da Educação.
Segundo o diretor do centro, Zhang Li, o ensino superior já passou por grandes
transformações desde o início dos anos 1990. Para os
próximos anos, as mudanças
incluem descentralizar o ensino superior e aproximá-lo
do mercado de trabalho.
Zhang cita números para
demonstrar o salto do ensino
superior da China: de 7,86
milhões de estudantes, em
1998 (9,8% dos recém-formados no ensino médio), saltou
para 29 milhões (24,2%) em
2009, ultrapassando os EUA
como a maior população universitária mundial.
O grande problema para o
governo é que, nos últimos
três anos, os recém-formados
encontram cada vez menos
vagas no mercado de trabalho. Neste ano, só 72,2% dos
6,3 milhões que concluíram o
curso acharam emprego.
UNIVERSIDADES DE ELITE
Já as universidades de elite
foram contempladas pelo
Projeto 985, em 1998, com a
criação de 39 universidades
de alto nível. Dessas, nove foram escolhidas como principais centros de excelência.
Segundo Zhang, o novo
plano educacional prevê
aprofundar o Projeto 985. Como exemplo, o diretor menciona que atualmente o programa espacial chinês emprega cerca de 10 mil pesquisadores de nível universitário com menos de 30 anos.
Levantamento feito pelo
jornal "Financial Times"
mostra que a China é o segundo país em número de artigos em publicações acadêmicas, e que deve ultrapassar os EUA em 2020.
Por outro lado, no ranking
das melhores universidades
asiáticas feito pela consultoria QS, a mais bem colocada é
a Universidade de Pequim,
num distante 12º posto.
"As universidades chinesas não alcançaram o topo,
mas estão subindo rapidamente", disse o americano
Philip Altbach, do Centro para Educação Superior Internacional do Boston College.
Altbach disse que o sistema de ensino chinês ainda
sofre com problemas sérios,
como corrupção, plágio e falta de orientação para pesquisa, descontrole na qualidade
de instituições privadas,
além da falta de democracia,
no caso das ciências sociais.
"Muitos estudantes e professores estão mais interessados em fazer dinheiro do
que em fazer ciência. O maior
problema para atingir um nível mundial é construir uma
meritocracia baseada em
transparência acadêmica."
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