São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2011

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ANÁLISE

Produção ineficiente e carga tributária tiram competitividade

ALEXANDRE CHAIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apesar da elevação das cotações do dólar norte-americano ocorrida nas últimas semanas, saindo da faixa de
R$ 1,60 para perto de R$ 1,90, os produtos brasileiros continuam sendo mais caros, em dólares, do que os mesmos produtos nos demais países.
A explicação para esse fato pode ser encontrada em diversas situações, indo desde a ineficiência no processo brasileiro de produção até o excesso de carga tributária à qual as pessoas físicas e as empresas estão submetidas.
O problema da ineficiência seria facilmente resolvido através da competição dos produtos importados independentemente do patamar da taxa de câmbio.
O governo, porém, no pretexto de salvaguardar as empresas nacionais, impõe uma carga adicional de impostos, prejudicando os demais agentes econômicos em prol de pequenos grupos.
Esse tipo de situação ocorreu recentemente no caso do aumento do IPI dos automóveis importados.
O argumento do governo para o aumento é a proteção dos empregos no setor automobilístico. O que ele irá conseguir, porém, é proteger a ineficiência da indústria nacional, que oferece carros com menos acessórios a preços maiores do que os seus concorrentes internacionais.
Além disso, essa atitude irá provocar a retaliação dos demais países na Organização Mundial do Comércio -de forma semelhante ao processo que o Brasil trava contra os Estados Unidos em razão dos subsídios agrícolas no mercado do algodão.

MOEDA FORTE
Outra explicação importante para justificar a diferença do preço dos produtos nacionais e importados em dólares norte-americanos é a forte apreciação que o real sofreu nos últimos anos, tornando o produto do país menos competitivo.
Essa apreciação continua apesar da elevação da cotação do dólar em relação ao real nas últimas semanas.
A solução desse problema é um pouco mais complexa, pois envolve fatores conjunturais e estruturais que vão desde a depreciação do dólar americano perante todas as demais moedas, inclusive o real, até a necessidade de financiamento externo para a realização das obras de infraestrutura dos próximos cinco anos que demandaram aproximadamente US$ 300 bilhões adicionais.
Com relação ao processo de depreciação do dólar, existe pouco que o governo brasileiro possa fazer para reverter essa situação.
Mas, em relação à necessidade de financiamento adicional, a solução é aumentar a poupança nacional que ocorreria através da redução da carga tributária, que deixaria mais recursos para o financiamento privado, ou então o governo passar a ser o provedor de recursos. Isso, ocorreria, porém, caso ele conseguisse reduzir os gastos de custeio.

ALEXANDRE CHAIA é economista e professor de finanças do Insper.



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