São Paulo, sábado, 09 de abril de 2011

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ANÁLISE

Medidas podem provocar efeito contrário ao que o governo deseja

MAURO ZAFALON
COLUNISTA DA FOLHA

Se o governo realmente colocar em prática o que se diz nos bastidores, deverá desincentivar a produção de álcool em vez de incentivá-la. O momento é errado, pois o álcool já começa a cair nos postos; as medidas são duvidosas, pois não atacam os problemas do setor.
O bom do novo sistema de carro flex é a opção de o consumidor usar ou não o álcool hidratado. A não utilização do álcool traz um problema para a Petrobras, devido à demanda acentuada por gasolina e à necessidade de mais álcool anidro.
As dificuldades vividas pela Petrobras na entressafra vêm, em parte, da própria política de manutenção contínua dos preços da gasolina.
Não reajustando o preço do combustível, a empresa dificulta os reajustes no álcool, o que eleva o consumo durante a safra e reduz a oferta na entressafra.
A exigência do governo de a Petrobras participar mais do setor traz outra preocupação: a empresa vai bancar o álcool com preços estáveis, como faz com a gasolina?
O caixa das usinas não aguentaria tal concorrência. O setor industrial vai pensar duas vezes antes de investir, principalmente porque as regras desse mercado não ficarão muito claras.
Outro problema crucial para o setor é o das compras da mão para a boca. Essas negociações têm de ter uma regulação, até para o planejamento da própria cadeia.
A colocação do açúcar como bode expiatório no setor também é muito duvidosa. A taxação do açúcar passará a reforçar o caixa do governo, que perderá receita com a Cide (tributo sobre a gasolina).
Produção é regida pelo mercado. Há um ano, produzir açúcar rendia 155% mais do que produzir álcool hidratado e 130% mais do que o anidro. Hoje, rende 30% e 1%, respectivamente.
Se agora o governo dá satisfação aos consumidores porque o álcool ficou caro, amanhã terá de fazer o mesmo com o açúcar, se desincentivar a produção.


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