São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2011

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FINANÇAS PESSOAIS

MARCIA DESSEN marcia.dessen@bmibrasil.com.br

Faça perguntas, sempre, antes de comprar produtos financeiros

Enquanto esperava na fila do caixa de uma agência bancária, Maria foi abordada por uma atendente e comprou um produto que debitaria R$ 80 de sua conta-corrente todos os meses.
Sem pedir informações adicionais e sem dedicar ao assunto o tempo e a importância adequados, ela avaliou tratar-se de um tradicional produto de previdência.
Como tinha planos de acumular reserva financeira para seus filhos, ponderou que a poupança mensal exigiria um esforço relativamente pequeno -e assinou o contrato.
Anos depois, quando tentou deduzir o montante das contribuições feitas ao suposto plano de previdência, Maria descobriu que tinha comprado um pecúlio resgatável, um seguro de vida que admite o resgate de parte das parcelas pagas, produto adequado para cobrir risco -não um plano de previdência tradicional, para acumular recursos para a aposentadoria.
Depois de ter depositado quase R$ 6.200, resgatou somente parte do valor. Cerca de R$ 1.000 eram devidos pela cobertura do risco de morte do participante do plano, atributo do produto que ela desconhecia e não teve a intenção de comprar.
Quando me deparo com histórias de vendas malconduzidas como essa, costumo perguntar se tudo foi dito para o cliente durante o processo de abordagem comercial.
Normalmente a resposta que ouço é "não, mas o cliente não perguntou". Um não pergunta porque não sabe o que tem de perguntar e o outro omite informações, avaliando que, se o cliente não perguntou, é porque já sabe ou não quer saber. Que perguntas Maria deveria ter feito antes de assinar o contrato?

BENEFÍCIOS
O que o produto faz por você? Que benefícios ele proporciona? Que necessidade sua ele vai solucionar? Existe um folheto, um contrato, para saber mais a respeito?

LIQUIDEZ
Se você quiser o dinheiro de volta, pode pedir resgate? Receberá todo o dinheiro de volta ou somente parte dele? Quanto tempo deve esperar entre a data do pedido e o recebimento do dinheiro?

RISCOS
Quais os riscos da operação? Existe alguma garantia? Essa operação é regulada pelas autoridades monetárias? Quem é o órgão regulador a quem recorro se avaliar que meus direitos não foram protegidos e observados?

RENTABILIDADE
Qual a rentabilidade potencial? Não faça projeções baseadas no passado. Estime o futuro. E seja conservador ao fazer simulações. Lembre-se de que existe inflação e projete somente taxa de juros real, acima da inflação. Líquida de tributos, naturalmente.

TRIBUTOS
Qual a incidência de tributos sobre a operação? Qual o percentual do IR devido? Quando o imposto será pago? Quem é responsável por recolhê-lo ao fisco? Qual é a base sobre a qual ele incide? Solicite um exemplo numérico se tiver dúvida. Pergunte também qual será o impacto na declaração anual do Imposto de Renda.

CUSTOS
Quais os custos da operação? Existe mais de uma taxa? Investindo mais ou ficando mais tempo é possível reduzir os custos? Existe punição caso o contrato seja interrompido?
Muita informação, não é mesmo? Todas necessárias e importantes para a escolha que será feita.
Portanto, use o tempo a seu favor. Tempo para analisar, para pesquisar e para decidir antes de contratar o produto ou o serviço financeiro.
No caso de Maria, podemos responsabilizar a atendente? Ela poderia ter identificado a necessidade da cliente e oferecido um produto mais adequado? Deveria. Maria deveria ter compreendido melhor e conferido que não se tratava do produto que tinha em mente?
Com certeza.
As decisões e escolhas de produtos e serviços financeiros não podem ser feitas por impulso. Alguns contratos são de longo prazo -10, 20 anos. Certamente a fila do caixa não é o lugar mais adequado para uma decisão dessa importância.

CORREÇÃO
Na coluna publicada na semana passada informamos que a sigla ATM significa "Any Time Money".
Embora seja a expressão utilizada na Índia, mais adequada teria sido a menção do significado "Automatic Teller Machine" ou "Automated Teller Machine", como é denominada nos Estados Unidos e nos países de língua inglesa a rede de caixas eletrônicos disponíveis pelo mundo afora.

MARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia e diretora-executiva do BMI Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.



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