São Paulo, sábado, 09 de julho de 2011

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Gol compra Webjet, e passagem pode subir

Compra da quarta maior companhia do país pela segunda ameaça modelo de baixo custo no país, dizem especialistas

Para analistas, Gol deve elevar tarifas da Webjet, que pertence ao sócio da CVC; negócio é fechado por R$ 96 mi

MARIO CESAR CARVALHO
JULIO WIZIACK

DE SÃO PAULO

A Gol, segunda maior companhia aérea brasileira, anunciou ontem a compra da Webjet por R$ 96 milhões, um negócio que, segundo analistas, pode pôr fim ao modelo de baixo custo no país.
Em comunicado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a Gol diz que a Webjet foi avaliada em R$ 310,7 milhões. A diferença (R$ 214,7 milhões) são dívidas.
A efetivação do negócio e o valor final da transação estão sujeitos a auditorias técnica e legal na Webjet. Também será necessária a aprovação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Com a compra, a Gol passa a controlar 40,5% do mercado. A junção da segunda maior companhia aérea (Gol, com 35,4% do mercado) com a quarta (Webjet, com 5,2% de participação) não é suficiente, porém, para tirar a liderança da TAM (44,4%).

E EU COM ISSO?
Especialistas em aviação afirmam que a aquisição deve ser um péssimo negócio para os consumidores.
"Essa compra significa o fim de companhias 'low cost' [baixo custo] no Brasil", afirma o advogado Carlos Duque Estrada Jr.
"É um negócio muito ruim para quem voa", diz o engenheiro Respício Espírito Santo Jr., professor de transporte aéreo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). "A Gol vai tirar do mercado a empresa que forçava as tarifas para baixo."
Ambos concordam em que, efetivada a compra, a Gol deve elevar os preços das passagens da Webjet, uma das mais baixas do mercado.

POR QUE VENDER?
A Webjet passava por uma crise. Para levantar recursos, a empresa tentou abrir o capital em fevereiro deste ano, mas a operação fracassou. Havia rumores de que poderia ser comprada por uma empresa estrangeira.
Isso porque, no início deste ano, a Webjet pressionou pela aprovação de mudanças na legislação para permitir que estrangeiros pudessem adquirir até 49% do capital de companhias nacionais. Hoje, esse limite é de 20%.
A Folha apurou que, naquele momento, a Webjet já mantinha conversas com a irlandesa RyanAir. Como a legislação não sofreu modificação, a companhia se viu diante de um impasse.
Em um mercado competitivo, no qual as margens de lucro dependem de escala, seria preciso investir. Sem recursos, seu principal acionista, Guilherme Paulus, abriu negociação com a Gol.
Paulus é fundador da CVC, maior grupo de turismo do país, e tornou-se acionista minoritário após sua venda para o fundo norte-americano de investimentos Carlyle.
Dono da Webjet, Paulus queria vendê-la para se dedicar à CVC , cujos negócios são mais rentáveis.

DEFESA
A compra da Webjet tem um sentido estratégico de defesa para a Gol, segundo o engenheiro Espírito Santo: evitar que a empresa ficasse nas mãos de um concorrente.
O consultor aéreo André Castellini, sócio da Bain, afirma que o problema da Webjet é que a empresa não conseguir implantar o modelo de baixo custo "puro-sangue".
Faltavam à empresa duas das principais características desse tipo de negócio: o uso de aviões com mais assentos (os da Webjet eram de cerca de 140 passageiros) e uma escala maior de operação.


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