São Paulo, sábado, 09 de julho de 2011

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ENTREVISTA NAYAN CHANDA

Crise é resultado da má gestão estatal, e não da globalização

AUTOR INDIANO EXPLICA AS ORIGENS DAS ATUAIS CRISES ECONÔMICAS, COMO A VIVIDA PELA GRÉCIA

GUILHERME BRENDLER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O indiano Nayan Chanda, 65, deixou espantado Jerry, um eletricista que fora a sua casa em New Haven, nos EUA, fazer alguns ajustes na fiação da residência.
Chanda disse ao eletricista que dirigia as publicações do centro de estudos da globalização da Universidade de Yale, e Jerry perguntou: "Não é verdade que a globalização destrói a floresta tropical? Que Deus o proteja!"
O episódio com Jerry e tantos outros que Chanda diz ter vivido o levaram a escrever "Sem Fronteira", publicado em 2007 nos Estados Unidos.
O livro busca explicar as origens da globalização e esclarecer alguns mitos. Serve de base para entender, por exemplo, a atual migração norte-africana para a Itália, a o desemprego no Reino Unido e a crise na Grécia.
De Nova York, ele conversou com a Folha.

 

Folha - Pode-se comparar o que ocorreu há 5.000 anos, com os povos que migraram da África, e o atual conceito de globalização?
Nayan Chanda -
Sim. A globalização nasce do desejo de viver uma vida melhor e segura. Quando eles deixaram a África à procura de alimento e água, acabaram dando início a esse processo. É a mesma coisa que acontece hoje com os imigrantes do norte da África que cruzam o mar Mediterrâneo para chegar à Itália. Tudo pelo desejo de se tornar cidadão europeu e poder circular livremente à procura de emprego.

Mas isso tem gerado conflitos na Europa, especialmente por causa da atual crise.
Sim, mas liderar esses conflitos é a principal função de governos, da sociedade civil e da mídia. É natural que britânicos protestem contra a falta de empregos no Reino Unido e que reivindiquem empregos para britânicos, por exemplo.
Mas, enquanto não nos dermos conta de que tudo aquilo que usufruímos é fruto do trabalho de alguém, e de que nós também produzimos bens e serviços para outras pessoas, não resolveremos esses conflitos.

Por que a palavra globalização espanta muita gente?
Porque virou sinônimo de maldição. Essa ideia é pregada por muitos teóricos, especialmente por uma vertente das escolas francesas de economia e de sociologia.
É compreensível que quem perde seu emprego ou benefícios sociais, como no caso da Grécia, não queira saber como o governo lida com as relações globais. O que se quer saber mesmo é como vai conseguir um novo trabalho.
No entanto, não é possível ter emprego se os produtos nacionais não forem vendidos no exterior e itens feitos lá fora sejam comprados.
O caso da Grécia é emblematico. Não foram os cidadãos gregos que tomaram rios de dinheiro emprestado de bancos estrangeiros. Quem o fez foi o banco central. As crises são produzidas pela má administração estatal, e não pela globalização.

SEM FRONTEIRA
AUTOR
Nayan Chanda
EDITORA Record
QUANTO R$ 62,90 (531 págs.)
AVALIAÇÃO Bom


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