São Paulo, sábado, 09 de julho de 2011

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Avanço do gás de xisto nos EUA ameaça exportações brasileiras

Com aumento da produção a baixo custo, principal consumidor diminuirá suas importações

Petrobras deve perder demanda americana para o gás do pré-sal; etanol pode ganhar novo concorrente

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

Uma nova técnica de extração de gás natural está revolucionando o mercado norte-americano e pode afetar planos de empresas brasileiras para aquele país -de petroquímicas a usinas de álcool, passando pela Petrobras.
A extração de gás de xisto, ou "shale gas" (em inglês), tornou-se economicamente viável há cerca de cinco anos.
Entre 2006 e 2010, a produção americana cresceu 48% ao ano, em média, segundo a EIA (agência americana de informação sobre energia).
O tamanho das reservas americanas, estimadas em 827 trilhões de pés cúbicos pela EIA -suficientes para abastecer o país por 36 anos-, levou o mercado mundial de gás a um novo paradigma, pois as necessidades de importação do maior consumidor mundial cairão drasticamente nos próximos anos.
"Até 2007, não havia perspectiva de oferta nos EUA; pelo contrário, eram esperados problemas no abastecimento", diz Otávio Carvalho, da MaxiQuim Consultoria.
A EIA estima que a importação cairá para 0,2 trilhão de pés cúbicos em 2035, ante 3,7 trilhões em 2010.
Além da maior oferta, os ganhos de competitividade trazidos pela nova técnica derrubaram o valor do gás nos EUA, referência mundial do setor, e hoje ele segue em trajetória oposta ao petróleo e a outros preços de energia.

IMPACTOS
O novo cenário atrapalha os planos de petroleiras instaladas em outros países, inclusive a Petrobras. A exportação de gás era uma das alternativas da estatal para escoar o gás presente nas reservas do pré-sal em momentos de baixo consumo no país.
"Pelo preço de hoje, a Petrobras não consegue nem pôr o gás do pré-sal no navio", diz Edmilson Moutinho, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.
Mas Sylvie D'apote, sócia-diretora da Gas Energy, diz que o gás brasileiro deve encontrar outros destinos. "A demanda crescerá nos emergentes, como China e Índia, e em países que buscam alternativa à energia nuclear."
A tendência, diz ela, é que o aumento da oferta crie uma nova demanda para o gás no mercado interno, especialmente para geração de energia em usinas térmicas e para produção de fertilizantes.
Para Moutinho, a abundante oferta de gás nos EUA pode até atrapalhar as exportações de etanol do Brasil para os EUA, caso os subsídios ao álcool americano realmente sejam derrubados.
"O gás natural pode começar a ser utilizado em transporte, como no Brasil, e suprir parte das necessidades de importação de combustíveis nos EUA", diz Moutinho.

PETROQUÍMICA
O novo patamar para o preço do gás, matéria-prima para a indústria petroquímica, também reativou o setor nos EUA. "Nos últimos 12 meses, houve uma retomada dos investimentos em novas unidades", diz o presidente-executivo da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), Fernando Figueiredo.
O baixo preço também desperta o interesse de petroquímicas brasileiras no mercado americano, como a Braskem, que já declarou interesse em novas fábricas nos EUA.
"Os EUA passaram a gás altamente competitivo. Só teremos investimentos petroquímicos à base de gás no Brasil quando os preços forem iguais aos do EUA ", diz.


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