São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2010

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FOLHAINVEST

"Home broker" vira vício de investidor compulsivo

Acesso constante e instantâneo às aplicações facilita o risco para iniciante

Em caso de dependência, operações excessivas chegam a afetar estudo, trabalho e vida social de investidores em ações

MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

Em 2009, o empresário Rafael Slonik, 22, cursava gestão da informação na Universidade Federal do Paraná. Mas o que prendia sua atenção não eram as aulas. Ele estava hipnotizado pela disparada das ações na Bovespa.
Todos os dias, quando o relógio marcava quinze minutos para às 10h, ele puxava o celular, deixava a aula de lado e acompanhava o que acontecia com o mercado.
O "home broker" -ferramenta utilizada para operar na Bovespa via internet- virou um vício. Slonik chegou a atrasar tarefas do trabalho, matar aula e furar programas com amigos para ficar grudado na tela do computador.
"A ideia de estar viciado jamais me incomodou, afinal estava ganhando dinheiro. Mas, relembrando, parece bem estranho", diz.
No auge do vício, em meados de 2009, Slonik dedicava cinco horas por dia ao "home broker" e fazia em média vinte operações por pregão.
"Andava por aí uma pilha de nervos. Teve dia em que passei todo o pregão comprando e vendendo, fiz um lucro excelente, mas fiquei completamente exausto."

RECLAMAÇÕES
As pessoas mais próximas chegaram a reclamar do seu comportamento, conta.
"Minha mãe ficava tensa ao me ver bufando na frente do computador. Eu ia para balada, faculdade, mas não parava de pensar em ações".
O publicitário e empresário Michel Kneit, 29, começou a usar o home broker no final de 2007 e rapidamente se tornou compulsivo.
Depois de ganhar R$ 800 em dois minutos numa operação com opções (investimento mais complexo e pouco comum entre iniciantes), ele se sentiu confiante para aplicar somas mais vultosas e amargou prejuízos.
Kneit investiu R$ 10.000 em ações da Telebrás no mercado à vista e, num intervalo de três dias, viu rapidamente seu capital encolher para R$ 7.000 e depois subir para R$ 9.000. Ele preferiu então sacar os recursos.
"Foram três dias em que não conseguia sair da frente do computador e até sonhava com isso. Tive pesadelos horríveis de que perdia muito mais do que tinha aplicado".
Durante a crise de 2008, Kneit comprava e vendia ações no mesmo dia. Com isso, conseguiu ter ganhos aproveitando a volatilidade dos papéis. Mas isso também trouxe estresse e duas repreensões do chefe na multinacional em que trabalhava.
"Tinha que olhar o mercado toda hora. Isso me deixou estressado. Acessava o "home broker" de cinco em cinco minutos e acabei atrasando obrigações do trabalho."
Depois de o chefe chamar sua atenção, Kneit impôs limites e passou a entrar no "home broker" apenas de hora em hora. Hoje, só investe com foco no longo prazo e usa a ferramenta até duas vezes por dia.

DESCONHECIMENTO
Embora esse comportamento não seja padrão entre investidores, Slonik e Kneit não são os únicos a desenvolverem a dependência.
Segundo Paolo Mason, diretor de varejo da WinTrade ("home broker" da Alpes Corretora), 10% da base de clientes pessoa física opera intensamente no "home broker". Uma parcela não sabe o que está fazendo e tende a perder dinheiro, afirma.
"É um percentual pequeno, mas há uma número considerável de pessoas que operam excessivamente e sem preparo. Às vezes, compram ação de uma empresa sem nem saber o que ela faz."


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