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FOLHAINVEST
"Home broker" vira vício de investidor compulsivo
Acesso constante e instantâneo às aplicações facilita o risco para iniciante
Em caso de dependência, operações excessivas chegam a afetar estudo, trabalho e vida social de investidores em ações
MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO
Em 2009, o empresário Rafael Slonik, 22, cursava gestão da informação na Universidade Federal do Paraná.
Mas o que prendia sua atenção não eram as aulas. Ele estava hipnotizado pela disparada das ações na Bovespa.
Todos os dias, quando o
relógio marcava quinze minutos para às 10h, ele puxava
o celular, deixava a aula de
lado e acompanhava o que
acontecia com o mercado.
O "home broker" -ferramenta utilizada para operar
na Bovespa via internet- virou um vício. Slonik chegou a
atrasar tarefas do trabalho,
matar aula e furar programas
com amigos para ficar grudado na tela do computador.
"A ideia de estar viciado jamais me incomodou, afinal
estava ganhando dinheiro.
Mas, relembrando, parece
bem estranho", diz.
No auge do vício, em meados de 2009, Slonik dedicava
cinco horas por dia ao "home
broker" e fazia em média vinte operações por pregão.
"Andava por aí uma pilha
de nervos. Teve dia em que
passei todo o pregão comprando e vendendo, fiz um
lucro excelente, mas fiquei
completamente exausto."
RECLAMAÇÕES
As pessoas mais próximas
chegaram a reclamar do seu
comportamento, conta.
"Minha mãe ficava tensa
ao me ver bufando na frente
do computador. Eu ia para
balada, faculdade, mas não
parava de pensar em ações".
O publicitário e empresário Michel Kneit, 29, começou a usar o home broker no
final de 2007 e rapidamente
se tornou compulsivo.
Depois de ganhar R$ 800
em dois minutos numa operação com opções (investimento mais complexo e pouco comum entre iniciantes),
ele se sentiu confiante para
aplicar somas mais vultosas
e amargou prejuízos.
Kneit investiu R$ 10.000
em ações da Telebrás no mercado à vista e, num intervalo
de três dias, viu rapidamente
seu capital encolher para R$
7.000 e depois subir para R$
9.000. Ele preferiu então sacar os recursos.
"Foram três dias em que
não conseguia sair da frente
do computador e até sonhava com isso. Tive pesadelos
horríveis de que perdia muito
mais do que tinha aplicado".
Durante a crise de 2008,
Kneit comprava e vendia
ações no mesmo dia. Com isso, conseguiu ter ganhos
aproveitando a volatilidade
dos papéis. Mas isso também
trouxe estresse e duas repreensões do chefe na multinacional em que trabalhava.
"Tinha que olhar o mercado toda hora. Isso me deixou
estressado. Acessava o "home broker" de cinco em cinco
minutos e acabei atrasando
obrigações do trabalho."
Depois de o chefe chamar
sua atenção, Kneit impôs limites e passou a entrar no
"home broker" apenas de hora em hora. Hoje, só investe
com foco no longo prazo e
usa a ferramenta até duas vezes por dia.
DESCONHECIMENTO
Embora esse comportamento não seja padrão entre
investidores, Slonik e Kneit
não são os únicos a desenvolverem a dependência.
Segundo Paolo Mason, diretor de varejo da WinTrade
("home broker" da Alpes
Corretora), 10% da base de
clientes pessoa física opera
intensamente no "home broker". Uma parcela não sabe o
que está fazendo e tende a
perder dinheiro, afirma.
"É um percentual pequeno, mas há uma número considerável de pessoas que
operam excessivamente e
sem preparo. Às vezes, compram ação de uma empresa
sem nem saber o que ela faz."
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