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Editor da "Economist" diz que Brasil deve pressionar China por câmbio
Em SP, diretor da revista britânica diz que moeda chinesa, mais que dólar, afeta indústria brasileira
John Micklethwait diz que é cedo para decretar declínio dos EUA e que Brasil deve reduzir dependência da China
RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE MERCADO
Se o Datafolha fizesse uma
pesquisa com líderes políticos e empresariais de todo
mundo, perguntando qual é
a publicação mais influente e
lida entre eles, dificilmente a
revista britânica "The Economist" não estaria no topo do
ranking.
Defensora do liberalismo e
criada em 1843, a "Economist" é chefiada desde 2006
por John Micklethwait, 48,
que está hoje em São Paulo
para participar de um debate
sobre o potencial brasileiro.
"Não é justo ficar colocando Brasil sempre ao lado de
China e Índia, com escalas
tão diversas. Por enquanto, o
Brasil é um poder regional
em ascensão, como são Indonésia, Turquia", diz.
A revista apoiou em editorial o candidato derrotado José Serra, "porque ele teria
mais ambição por fazer as reformas engavetadas por Lula", diz. "Dilma pode ser
mais intervencionista ou até
surpreender, como Lula."
O jornalista britânico passou boa parte das últimas
duas décadas escrevendo sobre os EUA. Seu último livro,
"The Right Nation" (trocadilho entre a "nação certa" e a
palavra "direita" em inglês),
conta a ascensão do conservadorismo americano.
Pressão brasileira
Não sou pessimista com o
G20 porque minhas expectativas com o sucesso desse encontro são bem baixas. Mas o
Brasil deveria pressionar
mais a China, junto com os
demais emergentes.
Mas a China foi bem eficiente
em culpar exclusivamente os
EUA. A emissão de dólares
dos EUA certamente não ajuda, mas o Brasil precisa lembrar a responsabilidade chinesa, pois as manufaturas
muito baratas prejudicam a
indústria brasileira. O desequilíbrio é culpa dos dois,
não só dos EUA.
Potência regional
Por enquanto, Brasil, China e
Índia criaram uma situação
em que todos ganham. O que
o Brasil vende eles não têm. E
a agricultura brasileira é
muito mais produtiva que a
chinesa ou a indiana.
Dependência chinesa
A balança brasileira está
muito dependente da China.
O Brasil precisa de produtos
de maior valor agregado. A
agricultura é fantástica, então tem que fazer produtos finalizados, ter marcas.
O setor de serviços pode se
internacionalizar. O sistema
bancário pode ser muito forte
na América Latina.
Declínio americano
É muito cedo para decretar o
declínio absoluto dos EUA.
Estão em meio a uma recessão séria, mas onde as pessoas mais talentosas do mundo querem estudar? Em que
empresas querem trabalhar?
É sério que houve mudanças.
Reagan falava coisas extremas, mas tinha lido Hegel,
algo que não posso falar de
Sarah Palin.
O achado de Murdoch foi
criar uma rede de comunicação para um público conservador que era sub-representado na mídia.
Sempre suspeito quando dizem que em 2025 a China será
o maior império do mundo.
Não será uma evolução em linha reta. Há desafios na urbanização, na religião e choques com os vizinhos, muitas dificuldades no caminho.
Europa subestimada
Também acho que muita
gente está subestimando a
Europa. Ela tem um problema sério de pessimismo, mas
tem os trabalhadores mais
qualificados. Se desregular
seu setor de serviços, ele vai
virar um gigante.
A Europa já sofreu grandes
problemas e tem uma capacidade de se reinventar e de reconstrução enormes.
Alemanha e Europa anglosaxônica avançarão mais. Mesmo os franceses, que foram
às ruas lutar contra a aposentadoria mínima aos 62 anos,
também sabem que precisam
mudar.
Inteligência de massa
O fenômeno da globalização
ajuda muito a "The Economist". Nossa tiragem tem
crescido muito, já supera 1,5
milhão por semana.
Temos 30 correspondentes
internacionais, uma cobertura realmente global, então é
normal que muitos brasileiros ou indianos nos leiam.
Vivemos a ascensão da "inteligência de massas". Reclamamos do sucesso das revistas de celebridades e fofocas,
do baixo nível da TV, mas
nunca tanta gente no planeta
foi à universidade, leu ou teve tanto acesso à informação.
Jornalismo
Estamos virando blogueiros
e aprendendo multimídia.
Mas, para 90% da equipe, o
que busco são as habilidades
do jornalismo de sempre: inteligência para pensar em
novas dimensões sobre tudo.
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