São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 2011

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VINICIUS TORRES FREIRE

O fim do "relax" americano


Em junho, BC dos EUA para de despejar dinheiro na economia, o que pode afetar juros, Bolsas e, talvez, PIB


O MAIOR FUNDO de investimento em renda fixa vendeu todos os seus títulos do governo americano.
Trata-se de um fundo da Pimco, uma das maiores administradoras de dinheiro do mundo, que cuida de mais de US$ 1 trilhão. Na opinião prática da Pimco, tais papéis deram o que tinham de dar. Seu preço deve cair, pois. Trocando em miúdos rapidamente: quando o preço de títulos de dívida cai, o "juro" sobe. Em suma, os juros subiriam nos EUA.
O pessoal que dirige a Pimco não rasga dinheiro nem bebe água quente; as opiniões deles são consideradas por quem tem dinheiro grosso. É verdade que gente do dinheiro grosso fez besteiras que só não levaram o mundo à breca porque os governos bancaram a conta das barbaridades dos financistas.
Mas o motivo possível da atitude da Pimco, além de fazer mais dinheiro em outra parte do mercado, parece simples. Desde o início da crise, o Banco Central dos Estados Unidos, o Fed, despeja dinheiro na economia. O faz por meio da compra de papéis privados e públicos, papéis de dívida lastreada em imóveis e outras, e títulos da dívida do governo dos EUA. Desse modo, sustentou os preços desses papéis, evitando crise ainda maior na finança privada e mantendo baixos os juros pagos pelo governo dos EUA.
Pois bem. Essa política de "imprimir dinheiro", de relaxamento monetário ("quantitative easing") a princípio termina em junho, quando o Fed não compraria mais títulos do governo, afora nas operações "normais", relativamente pequenas, da política ortodoxa de calibragem das taxas de juros de curto prazo.
Essa torrente de dinheiro serviria ainda para irrigar o sistema financeiro, tornando-o mais disposto a emprestar mais e a custo menor. Como as oportunidades e negócios nos EUA e no mundo rico em geral não pareciam tão rentáveis (ou inexistiam), parte desse dinheiro espalhou-se por Bolsas e pelo mundo.
O preço das ações subiu. Muito capital foi para os "emergentes", valorizando moedas (ou obrigando países a aumentar suas reservas ou a impor limites à entrada de capital, a fim de evitar a valorização).
Sem o despejo de dinheiro do Fed e, além do mais, dadas as perspectivas (ou especulações) de alta de inflação e o tamanho enorme da dívida pública dos governos, em tese os títulos da dívida americana vão perder valor e, portanto, os juros vão subir. Se o Fed não fizer nada, claro -"tudo o mais constante".
Os donos do dinheiro grosso e os melhores economistas do mundo não se entendem muito sobre o que vai acontecer depois de junho. Pelo menos, discordam da intensidade do efeito do fim do "relaxamento monetário". A economia dos EUA já ganhou impulso suficiente para não se abalar com algum aperto monetário? De quanto seria tal aperto?
Não se trata de risco grave. Mas trata-se de desconforto e incerteza a mais num ambiente que se turvou um pouco recentemente. O aumento do preço do petróleo e da comida está levando boa parte do aumento recente da renda dos americanos, que vinham consumindo mais. Sobra menos para gastar em produtos e em serviços "não essenciais". Pelo resto do mundo, tomam-se medidas para conter a inflação, da China ao Brasil; a União Europeia ameaça elevar os juros em abril.
O tempo está com cara de ficar um pouco nublado, de novo.

vinit@uol.com.br


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