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ANÁLISE
Aumento da Selic deverá prosseguir, mas poderá não ser tão drástico
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A decisão do BC de elevar
os juros para 10,25% ao ano
confirmou a previsão quase
unânime dos profissionais
que se dedicam ao ofício de
antecipar os passos da autoridade monetária.
Ante a velocidade com que
a demanda doméstica vinha
crescendo (atestada pelos
dados do PIB do 1º trimestre),
as surpresas adversas na inflação dos primeiros meses
do ano e, sobretudo, a piora
das expectativas de inflação,
não restava dúvida sobre como o BC tenderia a reagir.
Mas, observando o passado recente e as perspectivas
de evolução desses elementos acima citados, vislumbra-se algum alívio das pressões
inflacionárias à frente.
Pelo lado da inflação corrente, já em maio houve desaceleração do IPCA, associada em parte à "devolução" de fortes altas que os
preços dos alimentos e do
etanol tiveram no início do
ano. E esperam-se taxas
mensais mais moderadas pelo menos até outubro.
Quanto à demanda doméstica, há que lembrar que,
ao encerrar-se o 1º trimestre,
terminou a vigência das reduções de imposto que estimulavam a compra de automóveis e eletrodomésticos.
A LCA estima que o ritmo
de alta da demanda doméstica -que foi de 2,4% no 1º trimestre sobre o 4º trimestre de
2009 (ou de 9,9% em termos
anualizados)- esteja recuando, neste 2º trimestre,
para 1,5% (ou 6,2% ao ano).
Outro fator que "engordou" o PIB nos dois últimos
trimestres -alta expressiva e
deliberada dos estoques das
empresas- também dá mostras de perder fôlego.
Na indústria automobilística, por exemplo, no final de
maio os estoques correspondiam a 34 dias de vendas, nível excessivo ante o recuo do
apetite do consumidor e que,
portanto, prenuncia redução
da produção desse setor.
Já as expectativas de inflação acabam de interromper
uma trajetória de deterioração que durava 18 semanas.
Por fim, a aceleração do investimento (que subiu 7,4%
no 1º trimestre ante o 4º trimestre de 2009, um ritmo de
impressionantes 33,1% ao
ano) indica ampliação da capacidade produtiva que, estimamos, habilita a economia
a crescer de 4,5% a 5% ao
ano -ou 1,2% por trimestre-
sem pressionar a inflação.
Esses elementos não parecem suficientes para levar o
BC a, tão cedo, interromper a
alta da Selic. Mas poderão
desmentir os prognósticos,
cada vez mais comuns, de
que a taxa vá subir para muito além de 12% ao ano.
FERNANDO SAMPAIO, economista, é
sócio-diretor da LCA Consultores.
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