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Presidente do Cade critica área econômica
Badin ataca atuação de bancos públicos
JULIANNA SOFIA
DE BRASÍLIA
Prestes a deixar o comando do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), o presidente da autarquia, Arthur Badin, irritou o
Ministério da Fazenda ao criticar a política adotada pelo
governo de lançar mão dos
bancos públicos para pressionar a redução de juros no
mercado financeiro.
No último dia 4, Badin
aproveitou os holofotes no
julgamento da compra da
Nossa Caixa pelo Banco do
Brasil para atacar o papel dos
bancos públicos na gestão
petista.
Badin citou declarações
do presidente do Banco Central, Henrique Meirellles, de
que os bancos públicos não
devem ser "instrumentos para influenciar ou determinar
precificação dos juros".
E acrescentou: "De fato,
agora são minhas palavras,
me parece que, além de ser
má política pública, violaria
o princípio constitucional de
exercício de atividade econômica diretamente".
E foi além. Disse que qualquer subsídio concedido aos
consumidores pelo acionista
controlador de um banco
(leia-se o Tesouro Nacional)
implica prejuízo não apenas
aos acionistas privados como
também ao mercado.
Ao longo das críticas, condenou a política de crédito
rural do Banco do Brasil, por
não mostrar de forma clara o
impacto dos subsídios na
contabilidade pública. Classificou de ineficientes tais
subsídios, além do potencial
de distorcer o mercado.
DECRETO
"Os bancos públicos cumprem um papel importante
na recuperação econômica,
tem, tiveram e terão um papel importante, mas é preciso
tomar cuidado, para que, a
pretexto de aumentar a competição, não se atinja o contrário no longo prazo, com
precificação irracional dos
juros. Já se foi o tempo em
que se acreditava possível reduzir o preço das coisas por
decreto."
Procurado pela Folha, Badin informou que não iria comentar o assunto.
Não foi a primeira vez que
ele se manifestou contra a
atuação dos bancos públicos
na redução dos juros por gerar desequilíbrios na concorrência do setor. No início do
ano, Badin fez as primeiras
críticas, o que gerou desconforto na equipe econômica.
Assessores do ministro
Guido Mantega consideraram que o ataque agora foi
acintoso.
O desempenho dos bancos
federais na ampliação do crédito, na redução de juros e na
conquista de fatias do mercado é monitorado de perto por
Mantega, que se vangloria
dos resultados obtidos nos
últimos anos.
BELIGERÂNCIA
A Folha ouviu de um integrante do secretariado de
Mantega o comentário de
que a iniciativa de Badin não
passou de uma "tentativa de
se apresentar como bastião
da resistência" contra setores do governo.
Se, antes, a Fazenda torcia
o nariz para a possibilidade
de recondução de Badin ao
cargo de presidente do Cade,
agora, opõe-se frontalmente.
Badin, porém, já declarou
que, por motivos pessoais,
não pretende permanecer
mais dois anos no cargo.
Será a primeira vez nos últimos 14 anos que um presidente do conselho não será
reconduzido.
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