São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2010

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Riscos ambientais fazem bancos adotarem o "profissional verde"

Instituições financeiras contratam biólogos, engenheiros, geólogos e consultorias especializadas

Objetivo é evitar um desastre ambiental que abale a rentabilidade e a imagem das empresas e até dos próprios bancos


JANAINA LAGE
DO RIO
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Quando iniciou sua carreira no setor financeiro, em 2005, Erondina Gomes, 52, não entendia muito bem a motivação do banco ao contratar uma geóloga.
"Fiquei me perguntando se não devia alguma coisa ao banco, mas um dia vim com minha mochila nas costas para uma entrevista e vi que era uma oportunidade de fazer mais pela Amazônia."
Ela faz parte de um grupo ainda pequeno que, segundo estimativas do setor, reúne ao menos 30 profissionais, entre biólogos, geólogos e engenheiros especializados em análise de risco ambiental de clientes corporativos dos principais bancos.
Além disso, os bancos têm investido na contratação de consultorias ambientais especializadas e no treinamento de funcionários.
O investimento está ligado aos impactos que um eventual desastre ambiental pode causar na rentabilidade e na imagem das empresas e até dos próprios bancos.
O exemplo mais recente é o da petroleira BP, que anunciou a venda de ativos de US$ 7 bilhões para financiar parte dos custos gerados pelo vazamento de petróleo no golfo do México.
"Ambiente hoje é também questão financeira, é olhar para os riscos de um projeto", diz Otávio Lobão, chefe do Departamento de Meio Ambiente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
A análise ambiental dos bancos tem uma ênfase ainda maior em projetos de setores como os de mineração, exploração de petróleo, siderurgia, movelaria, geração de energia, agricultura, hospitais, tratamento de resíduos, transporte e construção civil.
"A imagem do banco está diretamente relacionada ao empreendimento que ele financia", afirma Ricardo Valente, diretor da consultoria Key Associados.
Desde que foi criada, em 2005, a empresa já multiplicou por seis o número de consultores, impulsionada pela demanda de bancos e indústrias.

NOVO PERFIL
As mudanças trouxeram um perfil diferente de funcionários ao setor financeiro, como a bióloga Silvia Chicarino, 33. Ela iniciou a carreira no Instituto Butantã, onde estudava o comportamento reprodutivo da cobra-d'água.
Hoje, faz parte da equipe de análise do Santander, e aplica uma vez por ano um questionário de sustentabilidade para clientes com limite de crédito maior ou igual a R$ 1 milhão.
"Se encontramos problemas, estimulamos o cliente a promover mudanças. Pequenos ajustes reduzem riscos."
A preocupação não está restrita a grandes empresas. No caso do Banco do Brasil, a opção foi investir na formação de pessoal para promover melhores práticas em comunidades de baixa renda.
O banco conta com um MBA voltado para estratégia de negócios de desenvolvimento regional sustentável, uma área com uma carteira de crédito de R$ 5,7 bilhões.


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