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ANÁLISE
Taxa de inflação surpreende com comportamento positivo
MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE
ESPECIAL PARA A FOLHA
O PIB (Produto Interno
Bruto) do segundo trimestre
de 2010 mostrou que a demanda doméstica está crescendo sistematicamente acima de 8% ao ano.
Os últimos dados de atividade ilustram que, apesar da
suavização nos meses mais
recentes, a atividade continua a se expandir.
No entanto, a inflação tem
surpreendido os analistas
com um comportamento extremamente benigno.
O IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo) de
agosto ficou, mais uma vez,
próximo de zero, levando a
inflação dos últimos 12 meses
a ficar ligeiramente abaixo
da meta de 4,5%.
Há um paradoxo no comportamento da inflação?
Na ata da última reunião
de política monetária, o Banco Central mostrou tranquilidade com os cenários corrente e prospectivo, embora a inflação de 2010 ainda deva fechar o ano acima do índice
central de 4,5%.
O diagnóstico da autoridade monetária é o de que o
amadurecimento do regime
de metas está se refletindo favoravelmente tanto na taxa
de juros neutra -nível dos
juros para o qual a política
monetária não é nem expansionista nem contracionista- como na potência dos
instrumentos.
Além disso, o Copom (Comitê de Política Monetária)
reconhece que a piora do
quadro externo tem ajudado
a manter a estabilidade dos
preços, mesmo com as evidências de dinamismo da demanda doméstica.
É razoável esperar que o
comportamento benigno da
inflação continue?
Por um lado, o ambiente
global mais hostil e as evidências de que a taxa de juros neutra está hoje mais baixa, ainda que temporariamente, sustentam a tese do
Banco Central de que o comportamento da inflação é
consistente com a convergência para a meta.
Por outro, a maior participação dos bancos públicos
no mercado de crédito brasileiro tende, caso o processo
continue, a desfazer gradualmente tanto os ganhos em
termos de aumento da potência dos juros como a redução
do nível neutro.
Adicionalmente, a trajetória de deterioração fiscal que
se configura no aumento dos
gastos do governo, caso não
seja revertida, é prejudicial
para a estabilidade inflacionária.
Enquanto o mundo continuar combalido e os investidores externos ignorarem o
crescente rombo nas contas
externas brasileiras, o quadro auspicioso do Banco
Central se sustenta.
Mas é um equilíbrio demasiadamente instável.
MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE é
economista, diretora do Iepe/CdG e
professora do Departamento de Economia
da PUC-Rio de Janeiro.
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