São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2010

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ANÁLISE

Taxa de inflação surpreende com comportamento positivo

MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE
ESPECIAL PARA A FOLHA

O PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre de 2010 mostrou que a demanda doméstica está crescendo sistematicamente acima de 8% ao ano. Os últimos dados de atividade ilustram que, apesar da suavização nos meses mais recentes, a atividade continua a se expandir.
No entanto, a inflação tem surpreendido os analistas com um comportamento extremamente benigno.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto ficou, mais uma vez, próximo de zero, levando a inflação dos últimos 12 meses a ficar ligeiramente abaixo da meta de 4,5%.
Há um paradoxo no comportamento da inflação?
Na ata da última reunião de política monetária, o Banco Central mostrou tranquilidade com os cenários corrente e prospectivo, embora a inflação de 2010 ainda deva fechar o ano acima do índice central de 4,5%.
O diagnóstico da autoridade monetária é o de que o amadurecimento do regime de metas está se refletindo favoravelmente tanto na taxa de juros neutra -nível dos juros para o qual a política monetária não é nem expansionista nem contracionista- como na potência dos instrumentos.
Além disso, o Copom (Comitê de Política Monetária) reconhece que a piora do quadro externo tem ajudado a manter a estabilidade dos preços, mesmo com as evidências de dinamismo da demanda doméstica.
É razoável esperar que o comportamento benigno da inflação continue?
Por um lado, o ambiente global mais hostil e as evidências de que a taxa de juros neutra está hoje mais baixa, ainda que temporariamente, sustentam a tese do Banco Central de que o comportamento da inflação é consistente com a convergência para a meta.
Por outro, a maior participação dos bancos públicos no mercado de crédito brasileiro tende, caso o processo continue, a desfazer gradualmente tanto os ganhos em termos de aumento da potência dos juros como a redução do nível neutro.
Adicionalmente, a trajetória de deterioração fiscal que se configura no aumento dos gastos do governo, caso não seja revertida, é prejudicial para a estabilidade inflacionária.
Enquanto o mundo continuar combalido e os investidores externos ignorarem o crescente rombo nas contas externas brasileiras, o quadro auspicioso do Banco Central se sustenta.
Mas é um equilíbrio demasiadamente instável.


MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE é economista, diretora do Iepe/CdG e professora do Departamento de Economia da PUC-Rio de Janeiro.


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