|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
commodities
Safra é recorde, mas renda fica apertada
Colheita também é forte nos EUA e na América do Sul, prejudicando ganho maior para o produtor brasileiro
Para analista, Brasil precisa duplicar a produção em dez anos e o produtor não tem renda para investir
MAURO ZAFALON
DE SÃO PAULO
O Brasil plantou menos,
mas colheu mais. Clima favorável e avanços tecnológicos
na produção permitiram alta
de 11% na produtividade. O
resultado foi uma safra recorde de 149 milhões de toneladas, 10% acima da anterior.
Recorde de safra nos EUA
e na América do Sul, regiões
entre as líderes na produção
de grãos, poderia provocar
um afrouxamento nos preços, o que não houve.
Com isso, à exceção do trigo, os preços podem ser considerados satisfatórios para
os produtores neste ano. Alguns itens, como algodão, ficaram com valores bem
aquecidos em plena safra.
Quando se olha para a safra, apenas dois produtos se
destacam no volume: soja e
milho. Juntos, foram responsáveis por 125 milhões de toneladas, 84% do total de
grãos produzidos pelo país. É
por aí que se pode medir a
renda do produtor.
No caso da soja, cuja avaliação da Conab apontou
68,7 milhões de toneladas na
safra 2009/10, "o produtor
não teve lucro exorbitante,
mas deu para equilibrar o fluxo de caixa", diz Anderson
Galvão, analista da Céleres.
O custo médio de produção por saca de soja foi de
R$ 28, enquanto os preços de
venda ficaram entre R$ 32 e
R$ 33, diz ele. Se forem considerados os custos de capital,
a soja deveria estar a R$ 40
por saca para compensar os
produtores, diz Galvão.
Ganhou mais quem teve
capacidade de guardar a
oleaginosa. Os que venderam a soja em março receberam R$ 26 por saca em Rondonópolis (MT). Hoje, a saca
está R$ 35.
Mas nem todos que anteciparam as vendas perderam,
acrescenta o analista. Quem
vendeu soja para comprar insumos -fertilizantes e defensivos- fez um bom negócio,
uma vez que os preços atuais
estão mais elevados.
Para o analista José Pitoli,
os preços do milho também
estão bons após a reação nas
últimas semanas. No mercado de balcão a saca já está
R$ 19 no Paraná. Além dessa
reação dos preços, o produtor obteve excelente produtividade, segundo ele.
A Conab estima 56,1 milhões de toneladas nesta safra 2009/10. Desse total, 34,1
milhões vieram da safra de
verão e outros 22 milhões da
de inverno.
PREOCUPAÇÃO
"O produtor agora começa
a passar para o verde, mas a
renda ainda é apertada", diz
Glauber Silveira, presidente
da Associação dos Produtores de Soja e de Milho de Mato Grosso, ao avaliar a produção e os preços atuais.
As 149 milhões de toneladas indicam, no entanto,
crescimento ainda muito tímido, segundo ele. O Brasil
precisa duplicar a produção
em dez anos e o produtor não
tem renda para investir.
"Temos área, clima e gente
qualificada, mas não temos
capacidade de investimento,
que fica ainda mais complicado com a regulamentação
da participação de estrangeiros na compra de terras no
Brasil", diz ele.
O governo, que já não ajuda internamente o produtor
-resolvendo problemas de
infraestrutura-, acaba de
inibir os investimentos externos, principalmente de fundos que faziam parcerias
com os produtores brasileiros, segundo Silveira.
Apesar de o produtor "entrar no verde" nesta reta final
de safra, a preocupação fica
com o próximo ano. "Quanto
vai estar o câmbio?", pergunta Silveira. Nos últimos anos,
tem havido um descasamento do valor do dólar na hora
de semear com a hora de comercializar o produto, elevando os custos e trazendo
pouca renda ao produtor.
Texto Anterior: Análise: Taxa de inflação surpreende com comportamento positivo Próximo Texto: Análise/Bioenergia: Formação e qualificação profissional são vitais para o etanol Índice | Comunicar Erros
|