São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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Indústria química quer 4% do petróleo

Setor cobra do governo reserva de barris produzidos no país para a utilização na fabricação de matéria-prima

Hoje, 30% dos insumos vêm de fora; Braskem quer garantir parte das reservas do pré-sal para a produção de resinas


Edu Barcellos/Divulgação
Unidade da Braskem em Paulínia (SP); indústria química produz insumos para bens como plástico para carros, além de defensivos e fertilizantes

TATIANA FREITAS
AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

A indústria química brasileira, dona de 3% do PIB e de um faturamento anual de US$ 120 bilhões, reivindica parcela de 4% de todo o petróleo nacional.
Pelo atual nível de reservas (o que inclui pré-sal e pós-sal), o setor teria hoje entre 1,2 bilhão e 1,4 bilhão de barris de petróleo para usar nos próximos anos.
Como a indústria fala em percentuais, e não em barris, o total assegurado pode subir, dadas as pesquisas ainda em andamento no pré-sal e que resultarão -é a previsão- em mais reservas.
O pedido de garantia de matéria-prima faz parte do pacto nacional da indústria química, entregue ao governo e que prevê investimento de US$ 167 bilhões até 2020.
"Com essa nova oferta, é importante que haja um incentivo do governo para que de 3% a 4% da produção nacional [de petróleo] vá para a indústria, para ser utilizada como matéria-prima", disse à Folha o presidente da Braskem e da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), Bernardo Gradin.
O restante seria destinado à produção de combustíveis.
Segundo Gradin, a indústria química importa cerca de 30% dos insumos (principalmente nafta, um derivado do petróleo) que consome. E a falta de matéria-prima barata é apontada como entrave à capacidade de competir com os produtos importados.
O deficit do setor químico foi de US$ 15,7 bilhões em 2009, e projeções indicam que deve ir a US$ 20 bilhões em 2010. Para o setor, parte do que é importado poderia ser produzida no país.

FUTURO INCERTO
O problema do deficit, agregado à falta de investimentos em infraestrutura e em inovação tecnológica e ao acesso limitado a financiamentos de longo prazo, torna o futuro ainda mais incerto, a despeito de haver à frente do litoral brasileiro uma "Arábia Saudita" em petróleo.
Parte da chamada indústria de base da economia, o setor químico produz insumos para uma infinidade de bens, como fios para tecidos, plástico para carros, eletrodomésticos e aviões, além de defensivos e fertilizantes.
A Petrobras é peça-chave no novo modelo proposto por Gradin, pois é a principal fornecedora de matéria-prima para a indústria química.

BRASKEM
A estatal já teve papel central na construção da atual Braskem, ao bancar bilhões de dólares para reunir o parque petroquímico brasileiro em uma só empresa, controlada pelo grupo Odebrecht.
Agora, a expectativa da megacompanhia petroquímica, que controla o fornecimento de 100% das principais resinas consumidas pelo país, é por garantia no fornecimento de insumos.
"A estratégia da Braskem, endossada pelo seu conselho e também pela Petrobras, tem uma visão de matéria-prima competitiva para o longo prazo", afirma Gradin.
Acionista relevante da Braskem, a Petrobras pode fazer a diferença. A questão é saber como ficam outros grupos -que também sofrem com a falta de insumo.
Para Gradin, a solução é criar uma "política de Estado". "O pré-sal, por si, não resolve. É preciso entender estrategicamente como nós posicionamos o que vem do pré-sal para atender a uma política de longo prazo", diz.


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