|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
commodities
Boato sobre ouro forma um novo garimpo na divisa Pará-Maranhão
Famílias migram para a beira do rio Gurupi, na fronteira dos dois Estados, à procura do metal
Garimpo é chamado de Arrecife ou Samaúma; um homem pode tirar cinco gramas de ouro e ganhar até R$ 250/dia
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A VISEU (PA)
Começou há menos de
dois meses. O boato chegou a
Aurizona (MA), Marabá (PA)
e aos ouvidos de alguns velhos garimpeiros de Serra Pelada e do Suriname. A notícia
é que tem ouro, muito ouro,
perto da isolada Viseu (a
361 km de Belém, PA).
Bastou a remota possibilidade de enriquecer para que
centenas de homens, mulheres e crianças migrassem para certo trecho da beira do rio
Gurupi, na divisa do Pará
com o Maranhão.
Não se sabe quem foi o primeiro a chegar. Nem quanta
gente já se instalou sob os
barracos de lona, montados
com troncos das árvores derrubadas ali mesmo, ao lado
da lama do mangue.
Alguns falam em 300 pessoas; outros, em 500. Em média, são dez garimpeiros que
chegam a cada dia, em barcos fretados -a viagem dura
cerca de uma hora e 15 minutos a partir de Viseu.
Para seus criadores, o garimpo que chamam de Arrecife (ou Samaúma, como outros dizem) é um dos mais
promissores da Amazônia.
Mesmo sem usar máquina,
um homem sozinho pode tirar até cinco gramas de ouro
por dia -R$ 250.
Usam técnica ancestral:
retiram e "lavam" a lama do
fundo do rio, esperando o ouro se acumular no fundo das
bateias ou nos degraus das
caixas de madeira retangulares -as "cobrinhas".
"Já vieram duas vezes com
motor para instalar aqui,
mas não deixamos", disse
Waldênio Monteiro, 40, que
há um mês era segurança da
Prefeitura de Viseu.
No ideal romântico da comunidade não cabem as máquinas, a bebida alcoólica, a
prostituição, as armas de fogo ou o mercúrio -que facilita a busca pelo ouro, mas polui a água e corrói os nervos
humanos.
Querem evitar os cenários
de caos, violência e doença
associadas às áreas de exploração minerária amazônica.
"Ninguém briga. Isso aqui
é um garimpo família, que
respeita o ambiente", disse
Monteiro.
De fato, crianças e mulheres estão por toda parte. As
mulheres cozinham e as
crianças ajudam no trabalho.
Agora, com o final das férias escolares, os pais querem mandar os filhos de volta
para morar com parentes em
suas cidades de origem.
Como quase todo mundo,
Ivaldo Barros, 50, é do Maranhão. Ele vê um futuro grandioso para quem souber garimpar no Arrecife, que, diz,
é uma das raras áreas de exploração apenas manual.
Ele só teme duas coisas:
jornalistas e o Ibama. Os jornalistas, dizem, são "alcaguetes", que espalham a fofoca do ouro e atraem de tudo, até a "bandidagem".
O Ibama é pior: pode interditar a área. "Todo garimpo
precisa de licença para funcionar. Este ainda não tem."
Texto Anterior: FOLHA.com Próximo Texto: Análise/Pecuária: Escolher genética adequada é fundamental na produção leiteira Índice
|