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Paciência e risco subjetivo desafiam colecionadores
Investidor faz permuta, paga obras em parcelas e prefere artistas jovens
Conhecedor diz que artista pode levar muito tempo para se valorizar e que "só alguns poucos chegarão à seleção"
DE SÃO PAULO
Maior colecionador de arte
brasileira, dono de um acervo de mais de 7.000 obras,
Gilberto Chateaubriand, 85,
tem uma resposta para quem
lhe pergunta o que é preciso
para ser um grande colecionador: "Dinheiro".
Mas, assim como a nova
classe média que ascendeu
ao mercado consumidor via
crédito, está surgindo uma
nova geração de colecionadores que compra arte em
suaves prestações.
Estão longe de serem pobres -afinal, arte é luxo. Mas
tampouco são banqueiros bilionários que podem pagar
sem olhar o preço.
Essa nova geração de colecionadores é apaixonada por
arte, convive com artistas e
frequenta exposições. Mas
não despreza o aspecto de investimento.
Arquiteto e iluminador,
Maneco Quinderé, 47, começou a colecionar há quatro
anos. "Compro mais artistas
jovens, que são mais acessíveis. Pago parcelado ou até
fazendo permuta com o meu
trabalho."
Para tentar minimizar os
riscos em meio a tantos jovens artistas, Quinderé ouve
muito a opinião de galeristas, curadores e amigos. "Arte pra mim é um investimento. Tem um capital ali que eu
sei que, se eu precisar, um
dia posso vender", diz.
"Mas, a cada nova obra,
minha mulher brinca que é
uma viagem para Nova York
que a gente está deixando de
fazer, a piscina que a gente
está deixando de construir."
PACIÊNCIA
O colecionador Fabio
Szwarcwald, 38, executivo
do banco Votorantim, é outro
que foi picado pela "mosquinha do colecionismo".
"Comecei comprando
obras para decorar meu apartamento há oito anos. Aí passei a frequentar galerias, acabei casando com uma artista
[a Gabriela, da dupla PaulaGabriela] e não parei mais."
Com mais de 200 obras,
Szwarcwald investe em artistas da sua geração -"que vivenciam o que eu vivo"- e
são mais acessíveis.
Para ele, arte dificilmente
é um mau negócio. "Se você
não ganha no lado financeiro, você ganha no lado espiritual, de conviver com aquilo
que te dá prazer", diz ele.
"Mas o risco é muito grande.
As pessoas veem o mercado
fervendo e acham que é simples. Mas a Beatriz Milhazes
levou 17 anos para passar a
valer US$ 1 milhão."
Ele acredita que só verá retorno quem tiver paciência
pra ficar com um trabalho
por mais de 10, 15, 20 anos.
VIVENDO DE ARTE
São tantos colecionadores
de arte contemporânea que a
atual geração de artistas é a
primeira a viver exclusivamente de arte.
Mas, ao contrário dos artistas do pós-Guerra, como Mira
Schendel e Lygia Clark, ou a
geração dos anos 70 (como
Carmela Gross), que ainda
estão subvalorizados em relação a artistas internacionais equivalentes, a nova geração está igual ou até mais
cara que artistas europeus ou
norte-americanos.
O problema desse mercado para quem quer começar
uma coleção e não tem dinheiro sobrando é que quanto mais jovem e mais acessível o artista, maior o risco.
Afinal, nem todos os artistas que hoje atuam no mercado vão se valorizar. Alguns
vão desistir no caminho. Outros não saberão administrar
a carreira.
"Você corre um monte de
riscos subjetivos. Há um número enorme de jovens artistas produzindo, mas na seleção só cabem 11. Um número
muito reduzido vai atingir
uma enorme valorização daqui a uns dez anos", diz Pedro Barbosa, colecionador e
ex-executivo do mercado financeiro.
"As boas compras são feitas com os olhos. Quando o
mercado está aquecido demais, muita gente começa a
comprar de ouvido", afirma
Barbosa.
Diretor do Credit Suisse,
José Olympio, um dos maiores colecionadores do país,
com mais de mil obras, não
recomenda arte como investimento. "É mercado muito
complexo, não é todo Vik
Muniz que se valoriza", diz.
"Quando as pessoas compram carro, barco etc., não se
preocupam se vai se valorizar ou não. A motivação deve
ser o prazer. Com a possibilidade de que aquilo vá ser valorizar."
(MARIANA BARBOSA)
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