São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2010

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Paciência e risco subjetivo desafiam colecionadores

Investidor faz permuta, paga obras em parcelas e prefere artistas jovens

Conhecedor diz que artista pode levar muito tempo para se valorizar e que "só alguns poucos chegarão à seleção"

DE SÃO PAULO

Maior colecionador de arte brasileira, dono de um acervo de mais de 7.000 obras, Gilberto Chateaubriand, 85, tem uma resposta para quem lhe pergunta o que é preciso para ser um grande colecionador: "Dinheiro".
Mas, assim como a nova classe média que ascendeu ao mercado consumidor via crédito, está surgindo uma nova geração de colecionadores que compra arte em suaves prestações.
Estão longe de serem pobres -afinal, arte é luxo. Mas tampouco são banqueiros bilionários que podem pagar sem olhar o preço.
Essa nova geração de colecionadores é apaixonada por arte, convive com artistas e frequenta exposições. Mas não despreza o aspecto de investimento.
Arquiteto e iluminador, Maneco Quinderé, 47, começou a colecionar há quatro anos. "Compro mais artistas jovens, que são mais acessíveis. Pago parcelado ou até fazendo permuta com o meu trabalho."
Para tentar minimizar os riscos em meio a tantos jovens artistas, Quinderé ouve muito a opinião de galeristas, curadores e amigos. "Arte pra mim é um investimento. Tem um capital ali que eu sei que, se eu precisar, um dia posso vender", diz.
"Mas, a cada nova obra, minha mulher brinca que é uma viagem para Nova York que a gente está deixando de fazer, a piscina que a gente está deixando de construir."

PACIÊNCIA
O colecionador Fabio Szwarcwald, 38, executivo do banco Votorantim, é outro que foi picado pela "mosquinha do colecionismo".
"Comecei comprando obras para decorar meu apartamento há oito anos. Aí passei a frequentar galerias, acabei casando com uma artista [a Gabriela, da dupla PaulaGabriela] e não parei mais."
Com mais de 200 obras, Szwarcwald investe em artistas da sua geração -"que vivenciam o que eu vivo"- e são mais acessíveis.
Para ele, arte dificilmente é um mau negócio. "Se você não ganha no lado financeiro, você ganha no lado espiritual, de conviver com aquilo que te dá prazer", diz ele. "Mas o risco é muito grande. As pessoas veem o mercado fervendo e acham que é simples. Mas a Beatriz Milhazes levou 17 anos para passar a valer US$ 1 milhão."
Ele acredita que só verá retorno quem tiver paciência pra ficar com um trabalho por mais de 10, 15, 20 anos.

VIVENDO DE ARTE
São tantos colecionadores de arte contemporânea que a atual geração de artistas é a primeira a viver exclusivamente de arte.
Mas, ao contrário dos artistas do pós-Guerra, como Mira Schendel e Lygia Clark, ou a geração dos anos 70 (como Carmela Gross), que ainda estão subvalorizados em relação a artistas internacionais equivalentes, a nova geração está igual ou até mais cara que artistas europeus ou norte-americanos.
O problema desse mercado para quem quer começar uma coleção e não tem dinheiro sobrando é que quanto mais jovem e mais acessível o artista, maior o risco.
Afinal, nem todos os artistas que hoje atuam no mercado vão se valorizar. Alguns vão desistir no caminho. Outros não saberão administrar a carreira.
"Você corre um monte de riscos subjetivos. Há um número enorme de jovens artistas produzindo, mas na seleção só cabem 11. Um número muito reduzido vai atingir uma enorme valorização daqui a uns dez anos", diz Pedro Barbosa, colecionador e ex-executivo do mercado financeiro.
"As boas compras são feitas com os olhos. Quando o mercado está aquecido demais, muita gente começa a comprar de ouvido", afirma Barbosa.
Diretor do Credit Suisse, José Olympio, um dos maiores colecionadores do país, com mais de mil obras, não recomenda arte como investimento. "É mercado muito complexo, não é todo Vik Muniz que se valoriza", diz.
"Quando as pessoas compram carro, barco etc., não se preocupam se vai se valorizar ou não. A motivação deve ser o prazer. Com a possibilidade de que aquilo vá ser valorizar."
(MARIANA BARBOSA)


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