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Receita estável reforça ajuste em 2011
Arrecadação cresce abaixo do previsto e fica longe do necessário para custear gastos no primeiro ano pós-Lula
Diferença entre receita e despesa pode chegar
a R$ 67 bi; assessores
de Dilma já estudam medidas de ajuste fiscal
GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA
Os números recém-divulgados do Produto Interno
Bruto mostram que as receitas do governo federal crescem abaixo do esperado e estão longe do necessário para
financiar as despesas programadas para o primeiro ano
do próximo presidente.
Embora tenham se recuperado dos efeitos da crise econômica, a arrecadação tributária e demais fontes de recursos ainda estão abaixo do
patamar atingido em 2008, o
que interrompe uma sequência de altas contínuas desde
o início da administração
Luiz Inácio Lula da Silva.
Com o anúncio de um crescimento econômico acima
das expectativas no primeiro
semestre, ficou claro também que a expansão da produção e do consumo não produziu o ganho desejado para
os cofres da União.
A receita total do governo
no período foi equivalente a
23,14% do PIB anunciado pelo IBGE, abaixo dos 23,87%
dos primeiros seis meses do
ano retrasado, quando a turbulência financeira internacional ainda não havia afetado o Brasil.
O problema para o sucessor de Lula é que o Orçamento de 2011 depende de uma
receita de 24,86% do PIB, ou
R$ 968 bilhões, para fechar
as contas do Tesouro Nacional, de acordo com o projeto
enviado no final do mês passado ao Congresso.
Em dinheiro vivo, a diferença entre o imaginado para
o próximo ano e o desempenho efetivo contabilizado até
agora representa R$ 67 bilhões (equivalentes a 1,72
ponto percentual do PIB projetado para 2011), ou praticamente todas as verbas obrigatórias para a saúde.
É verdade que essa diferença tende a cair com uma
reestimativa para cima do
PIB do próximo ano.
No entanto, deputados e
senadores ainda vão acrescentar novas despesas ao
texto da lei orçamentária.
Não por acaso, assessores
da candidata governista e líder nas pesquisas, Dilma
Rousseff, já estudam medidas de ajuste para um esperado início de mandato, conforme a Folha noticiou.
Tanto nas projeções para
este ano como para o próximo, o governo apostou na
continuidade da bonança fiscal que vinha permitindo a
ampliação de seu Orçamento
mesmo sem alta da tributação desde 2005.
AJUSTE À VISTA
Até 2008, o crescimento da
economia gerou altas ainda
maiores na arrecadação de
impostos, taxas, contribuições, dividendos, concessões e outras fontes de recursos do Tesouro Nacional -a
tendência se manteve até depois da extinção da CPMF, o
tributo do cheque (ver quadro nesta página).
A explicação mais usual
para o fenômeno é a formalização de empresas e de trabalhadores que não faziam
parte do universo de contribuintes regulares.
O aumento de salários e de
lucros também impõe alíquotas mais altas do Imposto
de Renda para empregados e
empregadores.
Pela lógica, esses ganhos
são transitórios: mais cedo
ou mais tarde, não havendo
aumento de impostos, a arrecadação tende a ficar estável
como proporção do PIB, como na maioria dos países.
O projeto original de Orçamento para este ano, elaborado pelo Executivo, previa
receita recorde de 25,67% do
PIB. Para acomodar as despesas incluídas por deputados e senadores, o Congresso
elevou a previsão para
26,28%.
Acreditava-se que a queda
da arrecadação em 2009 era
efeito passageiro da crise e
dos benefícios fiscais contra
a recessão, e a retomada econômica faria a receita superar os resultados de 2008.
Apenas a primeira parte do
raciocínio se mostrou verdadeira até agora.
Antes da divulgação do
PIB do primeiro semestre, o
governo já havia reduzido
sua estimativa de receita em
2010 para 23,98%, ainda ligeiramente acima do resultado do ano retrasado.
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