São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010

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Consolidação na cana passa por sinergia

Presidente da São Martinho diz que aquisições no setor só ocorrerão nos casos em que empresas agregarem valor

Compras recentes foram feitas, na maioria dos casos, só para elevar o potencial de moagem, sem agregar valor

Divulgação
Usina São Martinho em Pradópolis, interior de SP; sinergia será fator fundamental nas novas aquisições que ocorrerem no setor da cana-de-açúcar

MAURO ZAFALON
DE SÃO PAULO

O setor sucroenergético deverá passar por nova consolidação, mas em uma condição bem diferente da atual.
Essa consolidação visará a busca de uma maior geração de valores entre as empresas e só ocorrerá em grupos que conseguirem sinergia.
A avaliação é de Fábio Venturelli, presidente do grupo São Martinho, uma das principais empresas do país no setor.
A crise de 2008 para 2009 permitiu às empresas que estão no setor e a novos investidores fazer aquisições de indústrias em dificuldades.
Alguns desses negócios foram feitos a valores interessantes, mas na maioria dos casos foi apenas uma elevação do potencial de moagem, sem aumento de sinergia.
"A febre do crescimento, a crise financeira de 2008 e a paulada nos preços do etanol no começo da safra passada foram quase uma tempestade perfeita", diz Venturelli. A conjugação desses fatores afetou preço de venda, custo da matéria-prima, competição e acesso a recursos.
"Quem sobreviveu aprendeu uma lição que deve ser respeitada no desenho futuro desse setor: a busca de sinergia." Quando uma empresa quebra e outra a compra não é consolidação, diz ele.
A consolidação ocorre quando o resultado operacional das duas empresas em uma só gestão traz mais do que se elas funcionassem separadamente. Isso pode ocorrer por proximidade dos ativos, de área produtiva ou verticalização.
Ele cita alguns exemplos. Shell e Cosan têm um componente estratégico importante. Buscam a verticalização, que vai da cana ao veículo. "É uma fusão estratégica que gera valor porque tem hora que se faz dinheiro distribuindo [combustível] e tem hora que se faz produzindo."
Petrobras e São Martinho também vão gerar sinergia. Uniu-se "a "expertise" da Petrobras com o produtor mais competitivo e de mais baixo custo", avalia Venturelli.
A consolidação do setor, no entanto, não passa necessariamente por uma verticalização da cana ao tanque. A verticalização faz sentido em situações muito específicas, mas de forma alguma será a regra do setor, diz Venturelli.
"Há espaço para qualquer tipo de atividade. Para chegar ao tanque, são apenas três empresas. Uma está tomada e outra bem encaminhada", diz ele.
Venturelli prevê que o setor ainda pode demorar três safras para se recuperar da crise vivida recentemente. "Se tudo der muito certo, isso poderá ocorrer em 18 meses. O problema é que não se pode passar muito tempo apenas em consolidação. Deve haver também expansão."

LIÇÃO APRENDIDA
Mas o setor aprendeu uma lição e se estrutura para manter uma agenda de investimentos e de crescimento. Os novos investimentos ocorrerão em bases mais sólidas.
Petroleiras e bancos aprenderam e criaram departamentos com analistas para agricultura e questões imobiliárias, o que dá mais sustentação aos investimentos.
Com o crédito fácil, alguns investimentos foram feitos em áreas onde a produtividade da cana é de 70 toneladas por hectare, abaixo das 120 de regiões mais produtivas.
Como a base agrícola representa 80% dos custos, as empresas com produtividade de 70 toneladas não vão sobreviver, avalia Venturelli.
Para ele, a partir de agora, quem quiser entrar nesse setor terá de fazê-lo com quem conhece, com uma agenda efetiva de resultados, com objetivos e validação técnica.
O setor aprendeu que o avanço de fronteiras com a construção dos chamados "greenfield" -projetos começados do zero- não é tão fácil como se previa.
A construção de uma usina é um processo longo. A usina São Martinho, o carro-chefe do grupo e a maior do mundo, tem 60 anos e ainda recebe adaptações conforme novas tecnologias chegam ao grupo, diz Venturelli.
"O crescimento inteligente que virá vai misturar ativo novo com a adequação dos parados ou estressados. Esse processo não é super-rápido porque a gente conta a vida em safras e em ciclos. Em duas safras ainda haverá muito ajuste", conclui.


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