São Paulo, quarta-feira, 12 de outubro de 2011

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ANÁLISE COMBUSTÍVEIS

Carro elétrico pode ser viável desde que também use etanol

THAÍS MARZOLA ZARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O governo sinalizou com isenção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros elétricos e híbridos, a fim de impulsionar o desenvolvimento dessa tecnologia em solo nacional.
Essa é uma das maneiras de reduzir os custos do setor, essencial para fomentar a competitividade (em contraposição à simples instauração de mais tributos sobre importados, visando proteger a indústria nacional). Essa tecnologia está sendo incentivada nos países desenvolvidos, de modo que valeria a pena o Brasil se colocar na corrida, nem que seja apenas para não ser deixado para trás.
Mais importante, tal tecnologia permitiria um impacto ambiental bem inferior ao dos carros movidos a combustíveis fósseis. Se bem desenhada, a mudança permitiria melhor aproveitamento da matriz energética atualmente existente (via abastecimento fora dos horários de pico do consumo de energia elétrica, por exemplo).
Por outro lado, são conhecidas as dificuldades encontradas por qualquer programa de pesquisa e desenvolvimento no Brasil (nesse caso, incentivo tributário é condição necessária, mas talvez não suficiente).
Quanto ao impacto ambiental, depende, em última instância, da fonte utilizada na geração da energia elétrica -nos países desenvolvidos, em que a matriz é dependente de combustíveis fósseis, o ganho pode ser mínimo. Quanto ao aproveitamento da matriz brasileira, pode não ocorrer se for necessário o acionamento de mais usinas térmicas para suprir a demanda extra de energia.
O maior desafio é que as baterias até aqui desenvolvidas são extremamente pesadas, demandam muito tempo para carregar e têm autonomia bastante limitada.
Por outro lado, o etanol de segunda geração (combustível produzido a partir de celulose, como o bagaço e a palha da cana) está perto de se tornar economicamente viável, o que permitiria a extração de parte dos dois terços de energia atualmente não aproveitada da cana-de-açúcar e possibilitaria dobrar (ou quase) a produção do combustível em uma mesma área agrícola.
O carro elétrico pode até vir a se tornar uma alternativa viável, mas provavelmente apenas na forma híbrida, em que o etanol seria o candidato natural como combustível complementar -por ser, também, "limpo".
Essa pode ser uma boa oportunidade para introduzir definitivamente o etanol nos países desenvolvidos, abrindo um enorme potencial de mercado para o produto brasileiro.
Talvez mais do que investir em novas tecnologias automotivas, este seja um bom momento para o aprimoramento do já existente, aumentando a eficiência dos motores movidos a etanol, por exemplo.

THAÍS MARZOLA ZARA é economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP.


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