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ANÁLISE ENERGIA
Forma de gestão do pré-sal representa um passo atrás
ADRIANO PIRES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Com o anúncio, no final de
2007, da existência de grandes volumes de petróleo na
camada do pré-sal, através
da descoberta do campo de
Tupi, o governo fez alterações substanciais no marco
regulatório do petróleo.
Alguns chegam a afirmar
que o pré-sal teria sido apenas o pretexto para as mudanças. Segundo os defensores dessa tese, importantes
membros do governo e da Petrobras nunca engoliram a
chamada abertura do setor
de petróleo no Brasil.
As mudanças efetuadas
foram a criação de uma estatal, a troca do modelo de concessão pelo de partilha, o
monopólio da Petrobras na
operação dos campos do pré-sal ainda não licitados, a Petrobras com um mínimo de
30% das áreas do pré-sal a
serem licitadas e o processo
de capitalização da estatal,
no qual o governo aumentou
a sua participação acionária
na empresa.
Também foi criado um
fundo social e existe a possibilidade de se alterar a atual
distribuição dos royalties.
O que há de comum em todas essas medidas é a maior
intervenção do Estado e a
pouca preocupação com a questão ambiental.
Com o acidente ocorrido
no golfo do México em abril
deste ano, era esperado que
tanto o governo como o Congresso promovessem discussões mais profundas e estruturadas sobre o pré-sal e o
ambiente.
O pré-sal, da forma como
está sendo tocado, representa um perigo e, ao mesmo
tempo, um passo atrás em relação às políticas energéticas
que estão sendo desenvolvidas em outros países.
É possível conciliar o pré-sal com o desenvolvimento
sustentável. É possível, desde que sejam estabelecidas
políticas energéticas que preservem a atual matriz de
energia, uma das mais limpas do mundo.
O mundo hoje investe cada vez mais em fontes limpas
de energia. No Brasil, porém,
o principal investimento nessa área é o petróleo do pré-sal. Será que o mundo está
errado e o Brasil está certo?
Com isso, não estamos defendendo nenhum investimento no pré-sal -ao contrário, temos de gerar riqueza
com o petróleo.
A questão é se vamos pendurar o crescimento da economia brasileira exclusivamente no petróleo do pré-sal.
Será que é acertado construir cinco refinarias no Brasil? Não seria mais apropriado investir em inovação tecnológica de novas fontes de
energia ?
O mundo sempre se caracterizou por ser monoenergético. Na Revolução Industrial
inglesa, o carvão era a força
motriz. O século 20 foi o século do petróleo. Com certeza, a
melhor forma de contar a história do século 20 é através
do petróleo.
O século 21 não deverá ser
monoenergético. Os dois
principais pilares de uma política energética moderna
são a segurança energética e
o ambiente.
A adoção dessa política levará a uma diversificação da
matriz energética mundial e
cada região ou país deverá
usar suas vantagens comparativas no que se refere à disponibilidade de fontes primárias de energia.
O novo governo precisa estabelecer a política energética da diversificação e não
deixar que o pré-sal leve o
país para uma era pré-industrial, enquanto o mundo caminha para o pós-industrial.
ADRIANO PIRES é diretor do Centro
Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
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