São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2011

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Diretor de "Fiesp indiana" fala de "supercompetição"

Amit Mitra diz que entidade precisa de agenda inovadora e sugere limite à China

220 economistas estudam reformas de diferentes setores; Mitra convida jovens empresários com MBA

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

Criada por Mahatma Gandhi em 1927, a Federação das Câmaras da Indústria e Comércio da Índia tem 220 economistas. Sua função é elaborar "projetos modernizadores" para o país.
"Vivemos em um mundo hipercompetitivo. O papel de uma entidade como a nossa é ter uma agenda muito bem elaborada, para competir no mundo e saber divulgá-la para a sociedade", disse à Folha o secretário-geral da Federação, Amit Mitra.
Doutor pela norte-americana Universidade Duke, ele aparece dia sim, dia também na TV e nos jornais indianos e vive pressionando o Parlamento para "acabar com décadas de burocracia e protecionismo".

 

Sem pesquisa
A cooperação entre universidades e setor privado na Índia ainda é pequena porque herdamos o sistema britânico, em que mensalidades não são cobradas e a cobrança é menor.
Hoje, há 5.500 pesquisadores e cientistas no Conselho de Pesquisa Científica e Industrial. Um trator foi criado, vendido para milhões de camponeses, mas o cientista indiano responsável não recebeu uma rupia em royalties. Sem dinheiro, como poderemos pesquisar mais?
O Brasil deve ter o mesmo problema, deveríamos conversar e imaginar uma solução conjunta.

Cientistas que lucram
Uma lei de 1981, estimulada pelo MIT, definiu a divisão de lucros com produtos criados em universidades: 30% dos lucros para o criador, 30% para a universidade e 40% para a empresa que industrialize a invenção.
A Columbia fatura, só por essa lei, US$ 145 milhões por ano. Motiva cientistas, universidades e a comunidade atrás de inovação.

Fuga de cérebros
A Índia fatura US$ 60 bilhões exportando serviços de tecnologia, mas não criamos nenhum grande software. Vendemos serviços baratos.
Nossos melhores cérebros ainda se sentam nos conselhos da Intel, da Apple e da Microsoft. Quando capitalizarmos essa sabedoria aqui, seremos uma potência inovadora de fato.

Caras novas
O dono da rede de hospitais Fortis tem 36 anos e é diretor do Comitê de Saúde da Ficci. E pensa como fomentar esse setor, que mudanças na lei precisam acontecer para facilitar investimentos, que parcerias internacionais precisamos assinar.
Precisamos reciclar os comandos da indústria indiana. Os comitês setoriais já são dirigidos por gente com menos de 45 anos, com MBA nos Estados Unidos, na Europa ou na China.

Negociação ambiental
Não vamos levar sermão dos EUA. Cada americano ainda polui dez vezes mais do que um indiano. Chegamos tarde ao jogo, então nossas indústrias são menos poluidoras que as dos países ricos, têm máquinas mais modernas.
Não vamos fazer promessas sobre emissão de carbono enquanto EUA e Europa não apresentarem claramente o que muda no seu consumo.
Em Nova Déli, todos os táxis e ônibus usam gás comprimido. Que outra metrópole do mundo pode dizer isso?
Se os Estados Unidos quiserem despoluir o mundo, poderiam nos dar sua tecnologia verde.

Filantropia
Escolhemos 1.200 ONGs de excelência, auditadas e monitoradas, e as apresentamos aos sócios como alternativas para quem quiser doar. O combate à pobreza tem de incluir a boa gestão.

Cuidado com a China
Até as imagens do deus Ganesha, aquele com a tromba de elefante, são feitas na China. Eles fazem tudo. Mas há limites estratégicos. Hackers chineses espionavam até o escritório do primeiro-ministro indiano. Os americanos não deixaram os chineses investir em portos lá.
Se os chineses quiserem investir aqui na produção de geladeiras, de motos, ninguém vai se opor. Mas é cedo para investirem em áreas estratégicas ou sensíveis.


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