São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2011

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Executivo brasileiro ganha mais poder nas multinacionais

Com maior importância econômica do país, presidentes de corporações conquistam espaço em estratégias globais

Com perda do peso dos EUA e da Europa nos resultados, Brasil passa a ser prioritário para grandes empresas

VERENA FORNETTI
DE SÃO PAULO

O aumento recente da importância econômica do Brasil nas multinacionais veio com uma contrapartida política: os presidentes das unidades brasileiras ganharam voz e poder nas corporações.
Aumentaram as viagens para o exterior, o número de cafés da manhã, de almoços e de jantares de negócio, a participação em fóruns, a quantidade de visitantes na filial nacional, as horas trabalhadas e os recursos para adequar salas com a tecnologia para fazer teleconferências com a cúpula da matriz.
Rafael Alcapipani da Silveira, professor da Fundação Getulio Vargas especializado em etnografia nas empresas, destaca que a mudança é resultado de uma reconfiguração mundial do poder. "Estados Unidos e Europa estão perdendo a proeminência nas decisões globais."
Com o avanço acelerado da economia de países asiáticos e latino-americanos e a demora na recuperação dos mercados mais maduros, o Brasil passou a ser prioridade para muitas empresas.
O presidente mundial da GE, Jeff Immelt, virá ao Brasil duas vezes neste ano e, desde o final do ano passado, conversa mensalmente pelo telefone com o presidente da GE no Brasil, João Geraldo Ferreira. Segundo a empresa, poucos países são acompanhados assim de perto.
"O Brasil é a bola da vez. As ligações mensais mostram a importância do país e, mais importante, a oportunidade de pedir recursos."
A projeção da companhia é crescer 30% no Brasil neste ano. Em 2010, a receita cresceu 4% no Brasil e 13% na América Latina.
Ferreira afirma que também cresceu a velocidade de aprovação dos projetos. Recentemente, a decisão de criar uma equipe nova na unidade foi aprovada pela matriz em um dia, diz o executivo. E o aval para uma nova aposta foi obtido em duas horas. "Não houve um projeto do Brasil para o qual eles tenham dito "não"."

MAIOR PARTICIPAÇÃO
Na Ford, o crescimento do Brasil -o mercado é o terceiro mais importante para a montadora- também fez com que o país ganhasse espaço em estratégias globais.
Desde o ano passado, brasileiros desenvolvem o projeto de um carro com engenharia e design 100% nacionais para ser produzido aqui e em outros países.
"Nos últimos 18 meses, vemos uma participação crescente do Brasil nos planos e nas estratégias da Ford", diz Marcos de Oliveira, presidente no Brasil e no Mercosul.
Em 2009, ano de resultados muito afetados pela crise internacional, os números da Ford na América do Sul superaram os da América do Norte: enquanto no primeiro houve ganho de US$ 765 milhões, no segundo houve perda de US$ 639 milhões.
Em 2010, o lucro operacional, antes de impostos, foi de US$ 5,4 bilhões na América do Norte e de US$ 1 bilhão na América do Sul.

EMERGENTES
Marcos Bicudo, presidente da Philips, ressalta que 75% do crescimento da empresa vem dos Bics (Brasil, Índia e China). Há um ano e meio, Bicudo tem reuniões trimestrais com a cúpula de alta administração.
"Existe a tendência de descentralização do poder decisório. Isso está fazendo com que os Bics tenham mais voz no processo, algo que não era visível no passado recente."
Bicudo destaca que, com a retração econômica de países ricos, rompeu-se o paradigma de que os mercados maduros ditam os modelos e as formas de chegar a novos mercados. Para o executivo, a mudança facilita, principalmente, o acesso ao capital e aos investimentos.
O Google é outro exemplo de empresa em que as estratégias adotadas no Brasil repercutem em outros países.
Segundo Alexandre Hohagen, que acaba de ser promovido a vice-presidente para a América Latina, executivos de outros países vêm ver como é a gestão brasileira


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