São Paulo, domingo, 13 de junho de 2010

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ENTREVISTA NEWTON REIS MONTEIRO

Ritmo de exploração do pré-sal terá de ser revisto após Lula

EX-DIRETOR DA ANP AFIRMA QUE O PROJETO TEM VIÉS POLÍTICO E QUE É IMPOSSÍVEL CUMPRIR O CRONOGRAMA COM OS RECURSOS DISPONÍVEIS

AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

Crítico da pressa imposta à Petrobras pelo governo Lula para a exploração do pré-sal, Newton Monteiro, ex-funcionário da estatal e ex-diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo), diz que o cronograma para o investimento na área terá de ser revisto pelo próximo presidente.
Para Monteiro, com os recursos financeiros e humanos disponíveis, é impossível cumprir um programa com investimentos de US$ 220 bilhões em cinco anos.
Ele defende novas concessões -principalmente em terra, onde a exploração hoje é mínima- e diz que a pressa do governo brasileiro para o pré-sal é uma questão meramente política. "O grupo técnico da Petrobras tem a noção perfeita de quanto tempo esse processo [da descoberta à produção] leva", afirma. Leia trechos de entrevista à Folha.

Candidatos
Qualquer candidato que assumir a Presidência da República em 2011 terá de pensar na revisão da campanha do pré-sal. Isso vai ser revisto, para o bem ou para o mal. Pode ser o [José] Serra [PSDB], a Marina [Silva, PV), qualquer um terá de ter a própria visão. Acho que até o PT. Eles vão ficar quatro, oito anos. Essa situação atual sobre a Petrobras será revista.

A política
Acho que o pré-sal segue o viés político, algo complicado. Grupos técnicos da Petrobras têm perfeita noção do tempo desse processo [da descoberta ao início da produção]. Vários amigos meus que estão na Petrobras estão preocupados com isso.

Pré-sal revisto
A campanha para a exploração do pré-sal terá de ser revista. Até porque é necessário saber o que vai ocorrer no Brasil. Se o país continuar a crescer e o pré-sal continuar com projeções para dez anos, correremos o risco de perder a autossuficiência.

Tempo
Há algo que não estamos levando muito em consideração nessa equação do pré-sal, que é o tempo. Os projetos para prospecção e exploração não estão nas prateleiras. O projeto em águas profundas não apareceu da noite para o dia. A diferença é que naquela época não havia essa pressa que há hoje em ter essa receita.

Gente
De uns anos para cá, a Petrobras perdeu grande parte do pessoal especializado. De acordo com a turma do recursos humanos, quase 50% do pessoal da Petrobras tem cinco anos de experiência. São caras competentes, mas falta a vivência. Em petróleo, há muito de empirismo e de experiência.

Volta ao passado
Nos anos 60, quando a gente entrava na Petrobras, precisava fazer curso intensivo de inglês para poder falar com os chefes. Não vamos ter gente para tocar tanto projeto. Caso contrário, vamos voltar ao passado, quando entrávamos numa plataforma e só tinha gringo. Substituímos esses caras. Vamos voltar a essa situação?

Limites
Quando se produz petróleo em terra, como no Iraque, na Arábia Saudita ou na Rússia, é possível começar a produzir em até seis meses. Se não houver um oleoduto, é possível produzir e transportar o óleo por caminhão. Isso é impossível no mar. Lá só se produz quando tudo, rigorosamente tudo, estiver pronto.

Inexplorado
O Brasil tem área de 6 milhões de quilômetros quadrados com potencial petrolífero. A exploração em terra é hoje de 500 mil quilômetros quadrados. A dúvida no Brasil hoje é a seguinte: vamos sair da era do petróleo sem aproveitar esse grande potencial que nós temos? A Petrobras está no mar. Tudo bem, mas, e o resto?

Desde Cabral
Desde Cabral até 2008, o Brasil furou 24 mil poços de petróleo. Nesse mesmo período, os Estados Unidos furaram 4,5 milhões. A Rússia furou, no mesmo período, 550 mil poços. Como se vê, falta muita coisa a fazer. Nossa área é quase do tamanho da dos Estados Unidos, mas furamos pouquíssimo.

FOLHA.COM
Leia a íntegra da entrevista com Newton Reis Monteiro
folha.com.br/me749740


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