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ENTREVISTA NEWTON REIS MONTEIRO
Ritmo de exploração do pré-sal terá de ser revisto após Lula
EX-DIRETOR DA ANP AFIRMA QUE O PROJETO TEM VIÉS POLÍTICO E QUE É IMPOSSÍVEL CUMPRIR O
CRONOGRAMA COM OS RECURSOS DISPONÍVEIS
AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO
Crítico da pressa imposta à
Petrobras pelo governo Lula
para a exploração do pré-sal,
Newton Monteiro, ex-funcionário da estatal e ex-diretor
da ANP (Agência Nacional
do Petróleo), diz que o cronograma para o investimento
na área terá de ser revisto pelo próximo presidente.
Para Monteiro, com os recursos financeiros e humanos disponíveis, é impossível
cumprir um programa com
investimentos de US$ 220 bilhões em cinco anos.
Ele defende novas concessões -principalmente em
terra, onde a exploração hoje
é mínima- e diz que a pressa
do governo brasileiro para o
pré-sal é uma questão meramente política.
"O grupo técnico da Petrobras tem a noção perfeita de
quanto tempo esse processo
[da descoberta à produção]
leva", afirma. Leia trechos de
entrevista à Folha.
Candidatos
Qualquer candidato que assumir a Presidência da República em 2011 terá de pensar
na revisão da campanha do
pré-sal. Isso vai ser revisto,
para o bem ou para o mal.
Pode ser o [José] Serra
[PSDB], a Marina [Silva, PV),
qualquer um terá de ter a própria visão. Acho que até o PT.
Eles vão ficar quatro, oito
anos. Essa situação atual sobre a Petrobras será revista.
A política
Acho que o pré-sal segue o
viés político, algo complicado. Grupos técnicos da Petrobras têm perfeita noção do
tempo desse processo [da
descoberta ao início da produção]. Vários amigos meus
que estão na Petrobras estão
preocupados com isso.
Pré-sal revisto
A campanha para a exploração do pré-sal terá de ser revista. Até porque é necessário saber o que vai ocorrer no
Brasil. Se o país continuar a
crescer e o pré-sal continuar
com projeções para dez anos,
correremos o risco de perder
a autossuficiência.
Tempo
Há algo que não estamos levando muito em consideração nessa equação do pré-sal, que é o tempo.
Os projetos para prospecção
e exploração não estão nas
prateleiras. O projeto em
águas profundas não apareceu da noite para o dia. A diferença é que naquela época
não havia essa pressa que há
hoje em ter essa receita.
Gente
De uns anos para cá, a Petrobras perdeu grande parte do
pessoal especializado. De
acordo com a turma do recursos humanos, quase 50% do
pessoal da Petrobras tem cinco anos de experiência. São
caras competentes, mas falta
a vivência. Em petróleo, há
muito de empirismo e de experiência.
Volta ao passado
Nos anos 60, quando a gente
entrava na Petrobras, precisava fazer curso intensivo de
inglês para poder falar com
os chefes. Não vamos ter gente para tocar tanto projeto.
Caso contrário, vamos voltar
ao passado, quando entrávamos numa plataforma e só tinha gringo. Substituímos esses caras. Vamos voltar a essa situação?
Limites
Quando se produz petróleo
em terra, como no Iraque, na
Arábia Saudita ou na Rússia,
é possível começar a produzir em até seis meses. Se não
houver um oleoduto, é possível produzir e transportar o
óleo por caminhão. Isso é impossível no mar. Lá só se produz quando tudo, rigorosamente tudo, estiver pronto.
Inexplorado
O Brasil tem área de 6 milhões de quilômetros quadrados com potencial petrolífero. A exploração em terra é
hoje de 500 mil quilômetros
quadrados. A dúvida no Brasil hoje é a seguinte: vamos
sair da era do petróleo sem
aproveitar esse grande potencial que nós temos? A Petrobras está no mar. Tudo
bem, mas, e o resto?
Desde Cabral
Desde Cabral até 2008, o Brasil furou 24 mil poços de petróleo. Nesse mesmo período, os Estados Unidos furaram 4,5 milhões. A Rússia furou, no mesmo período, 550
mil poços. Como se vê, falta
muita coisa a fazer. Nossa
área é quase do tamanho da
dos Estados Unidos, mas furamos pouquíssimo.
FOLHA.COM
Leia a íntegra da
entrevista com Newton
Reis Monteiro
folha.com.br/me749740
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