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ANÁLISE CAFEICULTURA
Investimento na cadeia produtiva valorizará o café conilon
SYLVIA SAES
ESPECIAL PARA A FOLHA
No último levantamento
de safra, a Conab estimou a
produção de café no Espírito
Santo em 11 milhões de sacas. Ou seja, 8 milhões a mais
do que o total produzido no
início dos anos 90.
O café representa quase a
metade do PIB agrícola do
Estado e é a principal atividade em 80% dos municípios
capixabas.
No entanto, a principal variedade produzida na região
-conhecida como conilon-
é vista como inferior, destinada principalmente a fazer
volume nos "blends" (misturas) das empresas de solúvel
e torrado e moído.
O conilon distingue-se do
café arábica por ter alta concentração de cafeína e não
possuir um aroma e sabor valorizados pelo mercado.
Devido a essa reputação
negativa, chegou-se a pensar
em proibir seu cultivo em solo brasileiro.
Nos anos 70, entretanto,
uma política deliberada de
desenvolvimento da agricultura do Espírito Santo foi decisiva para a formação do
parque cafeeiro de conilon
no Brasil.
A topografia acidentada,
aliada às altas temperaturas
e umidade, tinha no conilon
uma das poucas alternativas
rentáveis para os produtores
rurais.
Mas não foi apenas a falta
de opção dos produtores que
levou o conilon a despontar
no Espírito Santo. Destaca-se, em primeiro lugar, a forma de organização da produção rural.
A maior parte dos cafés capixabas é oriunda de propriedades familiares com menos
de 50 hectares.
Ela utilizam principalmente a meação como mão de
obra. Os meeiros moram nas
propriedades e dividem o trabalho, assim como o risco da
atividade.
Dado o crescimento do salário dos trabalhadores no
campo, a meação tornou-se
um importante ganho competitivo para ambos -proprietário e meeiro-, que adotam também a diversificação
como forma de maximizar
seus ganhos.
Em segundo lugar, esse
desempenho se deve à pesquisa e aos investimentos feitos pelos produtores.
PESQUISA
Nos últimos 15 anos, a produção foi acompanhada por
um aumento de mais de
200% na produtividade, que
passou da média de 9 para 28
sacas por hectare.
O Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural)
tem um papel importante
nesse desempenho.
Destacam-se o desenvolvimento e a multiplicação de
clones de variedades geneticamente superiores, a implantação de jardins clonais
nos municípios cafeeiros, a
renovação do parque cafeeiro e a disseminação da tecnologia de fertirrigação nas propriedades.
Tamanho investimento,
porém, não atinge o restante
da cadeia produtiva. O fato
de o conilon ser considerado
um produto de qualidade inferior ao arábica leva pesquisadores e compradores a darem pouca atenção à qualidade. Resultado: pouco cuidado no beneficiamento e secagem dos grãos.
Ao que parece, essa história não vai ficar assim. No
mercado internacional, já há
quem valorize o café conilon,
cujos cuidados e apresentação vêm progressivamente
acompanhando o padrão dos mais nobres cafés arábica.
Exemplo é o café da região
de Karnatka, na Índia, apreciado e valorizado pelos consumidores.
Para que o café capixaba
aproveite essas oportunidades, investimentos no restante da cadeia são necessários.
SYLVIA SAES é professora do
Departamento de Administração da
(FEA-USP) Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo.
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