São Paulo, sábado, 13 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Poucas informações geram especulação e dúvidas


QUANTO MAIS TEMPO DURAR A INCERTEZA, MAIOR O RISCO DE QUE EFEITOS COLATERAIS INDESEJÁVEIS, COMO SAQUES DE CLIENTES PREOCUPADOS


ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

Silvio Santos, empresário e ícone da televisão brasileira, tem em seu vasto império de negócios um banco, o PanAmericano, que quase foi à falência recentemente.
Isso é quase tudo o que se sabe com clareza até agora sobre o caso que veio à tona nesta semana e parece envolver fraude bilionária.
O restante da história é pontuado por informações incompletas divulgadas pelo BC (Banco Central), instituição responsável pela supervisão do setor bancário.
Informações incompletas em casos como esse alimentam especulação, geram dúvidas e preocupações de clientes, funcionários, acionistas e participantes do mercado financeiro.
Quanto mais tempo durar a incerteza, maior o risco de que efeitos colaterais indesejáveis -como saques de clientes preocupados ou forte movimento de venda de ações de outros bancos- ocorram.
O prejuízo para a credibilidade de quem deveria ter detectado os problemas que quase provocaram a falência também tende a aumentar de forma proporcional à demora para se esclarecer o caso.

PONTOS NEBULOSOS
Os principais pontos nebulosos envolvendo o escândalo do PanAmericano, por enquanto, são os seguintes:
1) O BC anunciou que ao examinar, há alguns meses, as contas do PanAmericano, descobriu indícios de fraude contábil.
O ativo do banco, que inclui bens e créditos que podem ser convertidos em dinheiro, estaria inflado em R$ 2,5 bilhões.
O valor ultrapassa em muito o patrimônio (diferença entre o ativo e dívidas) dos acionistas do PanAmericano, que é de R$ 1,6 bilhão.
A diferença entre os dois valores, de R$ 900 milhões, é o tamanho do rombo gerado.
O BC informou, de forma picada, que os problemas de maquiagem dos balanços ocorreram tanto em operações de empréstimos como de cartão de crédito.
Aparentemente o banco registrava em seus balanços que tinha direito a receber pagamentos de empréstimos que já havia vendido para outras instituições financeiras (entre outras manobras).
A prática -de vender para outro banco o direito de receber as prestações de empréstimos concedidos a clientes- é comum no mercado.
Pontos não esclarecidos: que manobras ocorreram de fato? A maquiagem de R$ 2,5 bilhões feita no balanço do banco teve a intenção de esconder desvio de dinheiro feito por algum funcionário, prejuízo gigante do próprio PanAmericano ou de outra empresa do grupo?
Ou (hipótese que soa menos provável a esta altura) teria sido resultado de erro?
2) Como um rombo tão grande teria passado despercebido pelas inúmeras auditorias às quais o PanAmericano foi submetido nos últimos anos?
Isso inclui o próprio BC. Mas também bancos e empresas de auditoria externas que por motivos variados analisaram a saúde financeira e a solidez contábil do PanAmericano.
3) Silvio Santos poderia, em tese, ter optado por deixar o PanAmericano falir.
O BC começaria um processo de intervenção no banco, que envolveria ir vendendo os ativos e quitando as obrigações do mesmo.
Dificilmente isso afetaria o patrimônio de Silvio Santos (cujas demais empresas poderiam, por exemplo, ser transferidas para outros familiares, entre outras saídas possíveis).
O empresário, no entanto, tomou um empréstimo subsidiado, dando como garantia seu patrimônio, para cobrir o rombo em seu banco.
A solução teria sido imposta pelo governo? Ou o empresário fez isso para resguardar sua honra?
Essas são algumas de muitas perguntas que seguem sem resposta definitiva.


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