São Paulo, sábado, 14 de maio de 2011

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ANÁLISE

Governo barra veículos antes de avaliar políticas para o setor

LUIZ CARLOS MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Impor barreiras burocráticas para diminuir as importações de veículos de "determinados países" é um caso clássico de bala de canhão para matar pardal.
Para o consumidor, medidas como essa limitam um direito de escolha. Ele não deixará de procurar carros argentinos ou orientais. Ao contrário, o seu desejo será ainda mais incitado.
A questão importante é entender por que a indústria não conseguiu, em 17 anos de vigência do acordo automotivo, criar e consolidar uma estratégia de exportação sustentável.
A justificativa de que nossas condições estruturais (câmbio, carga tributária, custos de mão de obra e matéria-prima, logística etc.) diminuem a competitividade está desgastada.
Será que o câmbio de hoje nos torna menos competitivos do que éramos em 1994, quando o dólar estava em paridade com o real? E, mesmo sem os obstáculos acima descritos, as montadoras nacionais poderiam exportar para qualquer país sem autorização das matrizes?
Nossos reguladores deveriam ponderar sobre esses aspectos pouco explicitados quando esse contencioso envolvendo nossas exportações de veículos se torna causa de pruridos de nacionalismo comercial. Se existem as assimetrias que os sócios do Mercosul apontam, que se negocie, então, um novo acordo.
Nossos reguladores poderiam também dissecar os custos extraordinariamente menores de certas bandas da Ásia. Custos tão baixos que fazem com que importadores possam gastar uma verba publicitária de R$ 12,5 mil por unidade vendida, em 2010. Só como contraponto, na procura desesperada por caixa em 2005 e 2006, as montadoras dos EUA colocavam no porta-luvas de cada veículo, em média, US$ 3.000.
Há muito o que avaliar antes de dizer ao mundo e à OMC (Organização Mundial do Comércio) que nós realmente cumprimos regras de livre mercado. E perguntar se a liberalidade com que nosso BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) financia novas fábricas automotivas não deveria ser acompanhada de irreversíveis estratégias de exportação, a serem cumpridas pelas montadoras.

LUIZ CARLOS MELLO é diretor-geral do CEA (Centro de Estudos Automotivos).


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