São Paulo, sábado, 14 de maio de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE ALGODÃO

Redução no preço das roupas ajudará na queda da inflação

PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A queda nos preços das commodities agrícolas nas últimas semanas tem impactos esperados positivos sobre vários itens que compõem os índices de inflação no Brasil.
No caso de algodão, podemos olhar para uma cadeia produtiva onde, na origem, temos o algodão em caroço, no meio, os tecidos de algodão e, na ponta, as roupas.
Medindo as variações de preços dos dois primeiros pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPPA) e o último pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), ambos da Fundação Getulio Vargas, temos o seguinte cenário.
Entre o início de 2006 e a metade de 2010, os preços mantiveram-se em patamares estáveis, com maior oscilação no caso da matéria-prima bruta, que foi afetada, com outras commodities, pela crise de 2008.
Entretanto, a partir da metade de 2010, esses preços sofreram grandes elevações.
O fundamento do problema estava na redução da oferta causada por problemas climáticos e por restrições de exportações adotadas por alguns grandes países produtores, em um contexto de consumo mundial em elevação e com estoques relativamente baixos.
O pico desse processo aconteceu em março passado, quando o preço do algodão em caroço no atacado estava 142,3% acima do valor de julho de 2010.
O efeito esperado dessa alta expressiva foi de estímulo aos produtores, com aumento do plantio e da oferta, e perspectiva de redução dos preços no futuro.
De fato, os preços do algodão no mercado mundial começaram um processo de forte recuo nas últimas semanas, sendo os reflexos já sentidos no Brasil.
Entre março e abril passados, os preços do algodão em caroço no IPPA caíram 10,3%. Essa redução terá efeito defasado sobre os preços ao longo da cadeia.
No caso dos tecidos de algodão, o IPPA ainda registra aceleração em abril, quando os preços ficaram 26,2% acima dos de julho de 2010.
Na ponta da cadeia, o item roupas do IPC-S, ainda em aceleração, mostrou em abril nível 6,7% acima do do mesmo mês no ano anterior.

SEGUNDO SEMESTRE
Quanto vai demorar a transmissão da queda da matéria-prima para o consumidor final?
Pelos valores acima, fica claro que a volatilidade vai diminuindo ao longo da cadeia, e que as transmissões são defasadas no tempo.
Estimando econometricamente essas quantidades, vemos que cerca de 32% das variações de preços do algodão em caroço são transmitidas rapidamente (no máximo em um mês) para o tecido de algodão, não tendo efeitos significativos depois disso.
Já no caso da relação entre o preço do algodão e as roupas, a transmissão é muito mais lenta (em até cinco meses) e menos intensa, de cerca de 14%. A conclusão é que, descontados os efeitos sazonais de mudanças de coleções, devemos ter redução nos preços das roupas só a partir do segundo semestre deste ano, contribuindo para a trajetória esperada de redução da inflação.

PAULO PICCHETTI, 48, doutor em economia pela Universidade de Illinois, é professor da EESP/FGV (Fundação Getulio Vargas) e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV).


Texto Anterior: Produção de soja em Mato Grosso bate recorde
Próximo Texto: Vaivém - Mauro Zafalon: Holandeses deram ritmo à agropecuária do PR
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.