São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2011

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Fiscais veem má condição de trabalho na Volks

Doenças e lesões atingem até 20% dos metalúrgicos em fábrica do Paraná

Sindicato diz que situação é ainda pior e que maior multa foi de apenas R$ 8.000; greve na fábrica durou 37 dias

Theo Marques/Folhapress
Mauro Camilo com um dos seus exames médicos; ele estava afastado da fábrica da Volks em São José dos Pinhais (PR)

FELIPE VANINI BRUNING
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sobrecarga de trabalho, descumprimento do intervalo mínimo entre jornadas e repetição exaustiva de movimentos são alguns dos problemas apontados pela SRT-PR (Superintendência Regional do Trabalho no Paraná) na fábrica da Volkswagen de São José dos Pinhais (PR).
A inspeção foi feita a pedido do MPT (Ministério Público do Trabalho). Foi ali que 3.100 metalúrgicos fizeram greve de 37 dias, encerrada na sexta.
Segundo o relatório, de junho do ano passado, 357 trabalhadores da Volks estavam afastados em auxílio-doença por um prazo superior a 15 dias, ou 12% do total de metalúrgicos, metade deles com distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho.
O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, porém, afirma que o número de lesionados atinge quase 600 casos (20% do total de metalúrgicos). A maior parte deles era dos setores de montagem, pintura e armação.
Baseada na fiscalização dos auditores fiscais do trabalho, a SRT-PR aplicou diversos autos de infração à Volks. O de maior valor, porém, não passa de R$ 8.000.
A Volks está recorrendo. "Esse valor é irrisório para qualquer empresa. Imagine para uma montadora que produz 820 carros por dia.
Vale mais a pena para a Volks continuar descumprindo a lei", diz Sérgio Butka, presidente do sindicato.
Para Mário Freitas, engenheiro do trabalho que presta assessoria para o sindicato, em alguns postos da Volks a chance do metalúrgico de adquirir uma doença de trabalho atinge 60% em três anos.
"Eles têm de repetir um movimento a cada 15 segundos e, como muitos estão doentes, os que sobram acabam sobrecarregados porque precisam trabalhar pelos ausentes", diz Freitas. O relatório da SRT deu origem a um inquérito no Ministério Público do Trabalho.
"Pedimos que a direção da Volks assinasse um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), mas eles se recusam a admitir que os problemas dos metalúrgicos são decorrentes do trabalho", diz a procuradora Marília Coppla, responsável pelo inquérito.
"Como já comprovamos esse nexo, o próximo passo será uma ação civil pública."

HORA EXTRA
Outro problema é o excesso de hora extra. Segundo o sindicato, só em maio, foram mais de 60 mil horas extras.
"Fazia muitas horas extras. A gente se matava", afirma o metalúrgico Mauro César Camilo, 39. Depois de quatro anos como soldador, Camilo adquiriu bursite e tendinite. "Acordei um dia com meu braço travado", diz.
Camilo se afastou pelo INSS e passou por três cirurgias e diversas horas de fisioterapia durante sete anos. Agora recebeu alta médica e deve retornar em outra função com o fim da greve. "Volto pela metade. Inteiro, nunca mais vou ficar."

Colaborou ESTELITA HASS CARAZAI, de Curitiba


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