São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2011

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VINICIUS TORRES FREIRE

'Mercados' se aliviam no mundo


Finança festeja chance de especulação oferecida pela anemia dos EUA e pelo superaquecimento da China

"OS MERCADOS" mostraram ontem com quantos paus se faz uma canoa furada. Um feixe de notícias ruins vira um navio de especulação. "Bolsas sobem, alívio nos mercados", dizem os locutores dos noticiários e manchetes dos "on-lines".
Alívio para quem, de quê? Bolsas subirem ou caírem não são em si mesmo sinal de coisa alguma a respeito da economia, ainda mais em se tratando de um dia (ou semana, ou mês). No entanto, entra dia, sai dia, a gente ouve essas tolices.
Ontem, "os mercados" comemoraram que o mundo vai mal o bastante para haver ainda alguns meses de dinheiro fácil para especular com ativos de risco (ações, commodities, moedas a ativos de países periféricos, como o nosso etc.).
Ben Bernanke, o presidente do BC americano, o Fed, disse ao Congresso do país que a economia está pior que imaginava. Insinuou que uma iniciativa desesperada e perigosa como inundar o mundo de dólares pode ser reativada se (ou quando) o caldo da atividade econômica entornar (e está entornando).
Tal estímulo monetário talvez não fosse necessário (se é que funciona) se o governo dos EUA pudesse gastar em promoção de emprego e na reanimação de setores ora em coma nos EUA (como o imobiliário).
Mas tal programa está sendo enterrado pela tibieza de Barack Obama e pelos parlamentares republicanos, que vão obrigá-lo a cortar gastos, o que vai retardar ainda mais o crescimento americano.
A esse respeito, note-se que uma dessas agências de classificação de risco de calote alertou ontem o governo dos EUA para o fato de que estuda baixar a nota de crédito do país.
O motivo mais imediato é o risco de o governo americano não ter como pagar suas contas e dívidas ao final deste mês -o que seria catástrofe de alcance mundial.
A Câmara deles, dominada pelos republicanos, não quer autorizar uma elevação do teto de endividamento do governo dos EUA sem que Obama corte despesas do governo.
O mercado ficou alegrinho também porque a economia chinesa continua superaquecida, o que estimula especulação com commodities, as quais o país consome de modo pantagruélico. Mas a China ainda crescendo demais é má notícia, pois o excesso de velocidade pode levar ao descarrilamento.
Há "alívio nos mercados", mas o impasse político na Europa sobre a solução da crise grega pode arrastar mais países para o tumulto. A crise na eurozona continuava ontem na mesmíssima.
Tanto continuava que também ontem o Fundo Monetário Internacional, o velho e notório FMI, soltou uma avaliação da crise grega na qual, lá pelas tantas, diz na prática que é preciso impor um calote aos credores do governo da Grécia.
Embora a redução forçada da dívida grega pareça providência inevitável para a maioria dos estudiosos ponderados do caso, ainda assim isso vai dar em grande tumulto financeiro. A confusão será maior ou menor a depender do "jeitinho" de fazer a coisa -o calote.
O mundo está atolado nesta lama feita de risco de colapso financeiro de governos europeus, risco de contágio global, anemia econômica americana, excesso chinês e especulação à vontade com dinheiro de fantasia. E "os mercados" se aliviam. No resto do mundo, decerto.

vinit@uol.com.br


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